A Volta do Antiamericanismo

Os Estados Unidos são o país com o maior mercado consumidor logo ao nosso lado.

Os americanos são um povo meio ingênuo, vivi com uma família por ano, e dois anos com meus colegas de Harvard. Não se interessam nem um pouco pelo Brasil, acham corretamente que temos pouco a oferecer além do samba.

São comunitaristas, do tipo que começam cooperando, acreditam num ganha-ganha para ambos os lados, jamais um soma zero como acham quem nunca negociou com eles.

Os super-ricos são de esquerda, Bill Gates, Elon Musk irão doar tudo para os pobres, algo que ninguém da esquerda brasileira pretende fazer.

Contudo o antiamericanismo no Brasil é mais do que uma opinião política: é um traço cultural, um mito nacional, um reflexo do nosso complexo de inferioridade travestido de soberania e não consequências de maus tratos ou guerras.

Cultivado por gerações de intelectuais, reforçado por militares, encenado por diplomatas e idolatrado por estudantes, esse sentimento tem custado caro ao país em termos de desenvolvimento, inserção internacional e até mesmo governança interna.

Em vez de exportar para o mercado americano como fizeram o Japão, Coreia do Sul e China, nossos economistas fizeram o contrário, pois insistem na política de substituição das importações americanas, por produtos nacionais fabricados aqui.

China, Coreia e Japão estão agora na frente, e o Brasil nunca mais conseguirá alcançar. Nesse período, estes países administrados por administradores e não por economistas criaram marcas poderosíssimas com Sony, Yamaha, Samsung, BYD, que americanos jamais permitiriam serem taxados.

Em suma, a única marca internacional que possuímos, a Varig, faliu.

Vargas usou a rivalidade entre americanos e alemães para barganhar investimentos, como a CSN. Recebeu ajuda, mas manteve um projeto nacionalista e autárquico.

Nos anos 50 a 70, a esquerda brasileira transformou os EUA no grande vilão do capitalismo internacional.

Curiosamente, mesmo durante a ditadura militar alinhada geopoliticamente aos EUA persistia um discurso nacionalista na economia e na cultura, desconfiando de multinacionais e resistindo à “entrega” de setores estratégicos.

Decretamos a “Moratória da Dívida Externa” bestamente em praça pública, assustando todos os depositantes dos bancos, em vez de ligar as 16 horas dizendo que não poderíamos pagar, e ninguém precisava ficar sabendo.

Durante os governos do PT, especialmente sob Lula e Dilma, o antiamericanismo ganhou status oficial.

O Brasil se aproximou dos BRICS, sabotou a Alca, criticou guerras americanas no Oriente Médio e buscou protagonismo no Sul Global.

Nas universidades e na cultura, o antiamericanismo é praticamente hegemônico. Livros, teses, filmes e músicas retratam os EUA como corruptores, violentos, racistas, imperialistas.

A elite cultural brasileira se define, muitas vezes, mais por aquilo que rejeita (EUA, liberalismo, capitalismo) do que por aquilo que propõe.

Enquanto isso, modelos administrativos, técnicos e educacionais americanos focados em eficiência, mérito e responsabilidade são descartados como “neoliberais” ou “coloniais”. Minha luta pró administrador nem obteve apoio das escolas de administração.

A insistência em ver os EUA como inimigo impediu o Brasil de fazer alianças estratégicas, como fizeram Coreia do Sul, Taiwan, Polônia ou Índia. Enquanto outros países usavam o capital, a tecnologia e o conhecimento americanos para se desenvolver, o Brasil preferia “resistir” e permaneceu estagnado.

Em nome da soberania, mantivemos estatais ineficientes, universidades ideologizadas e um setor público hostil à inovação.

Soberania volta às manchetes, reforçando mais 50 anos de substituição das importações, e ignorar o imenso mercado americano, bem como parcerias tecnológicas imprescindíveis pois nossas universidades nada pesquisam que seja útil para as empresas.

O Que Ganhamos com Isso?

Pouco. Um senso falso de independência, talvez. Um discurso soberano para consumo interno. Mas perdemos relevância internacional, acesso a mercados, investimentos em tecnologia e influência diplomática.

Portanto, está na hora do Brasil abandonar essa adolescência diplomática.

Os EUA não são um inimigo a ser odiado, nem um pai a ser bajulado.

São um parceiro estratégico, com o qual podemos e devemos ter relações pragmáticas, baseadas em interesses mútuos.

O antiamericanismo pode ser um excelente discurso para assembleias estudantis.

Mas é um péssimo alicerce para um projeto de país.

7 Comments on A Volta do Antiamericanismo

  1. Mac Donald’s vai bem no Brasil, assim como a Coca Cola, General Motors, tem a poderosa AMCHAM (onde conheci pessoalmente o professor Kanitz, à época na Exame?), Cargill, Motorola, Microsoft, Google, Burger King, Netflix (com excelentes documentários como Democracia em vertigem e Apocalipse nos trópicos. Tem Amazon Brasil, tem Uber, há inúmeras empresas de produtos e serviços norte americanos. Os aviões da Embraer contam com 50% de componentes dos EUA. Ah, sim, Dell, HP, também atuam no Brasil. Balança comercial com superávit em favor dos EUA há mais de uma década e na casa dos bilhões em favor dos EUA. Assim, tremendo besteirol dizer que o Brasil rejeita os EUA.

    • Makoto, parece que você não entendeu a mensagem … de que por razões ideológicas … nosso país não se beneficiou do acesso ao conhecimento e aos valores sociais e econômicos oferecidos pela cultura americana.
      Que a opção ideológica imposta aos brasileiros focou na formação de revolucionários improdutivos e obsoletos ao invés de focar na formação de engenheiros, empreendedores …

  2. Lista interessante, sr. Macoto. Pode ser ampliada, naturalmente. Em quantos desses casos todos, brasileiros, saídos de nossas Universidades, de suas pesquisas e criações, terão contribuido para tão bom aproveitamento ?

  3. Qual a ação? Continuar, ou arriar ainda mais as calças?
    Os EUA tem sim muito a contribuir e ensinar, mas infelizmente nossos patriotários rezadores de pneus, preferem trazer somente as coisas RUINS dos EUA.
    Um exemplo: Taxação das fortunas, das Heranças e financiamento das Universidades, que a nossa Direita vagabunda, racista e ENTREGUISTA, não admite sequer discutir.
    Não sei se ainda acompanha as notícias… Quem veio a criar problemas ao nosso comércio bi lateral foi o larajão e não daqui pra lá.
    Então só tem uma resposta… Yankee, Go Home

  4. E qual o projeto de País do lulapetismo???? Destruir a nação!!! Em consequência, quanto mais ele faz em direção a esse projeto, mais felizes ficam os participantes deste desgoverno! É nossa ilusão achar que eles ficam tristes com cada novo fracasso. Eles ficam felizes!!! Daí, que ao pobre povo brasileiro só resta uma saída: apear do poder essa camarilha, em todos os níveis, executivo, legislativo e judiciário, pela via democrática que nos resta, o voto, em 2016! Por favor povo brasileiro, votem bem em 2026!

  5. O povo está se digladiando por dois políticos inconvenientes. A solução é expelir ambos e seus partidos do cenário nacional. Não sei porque o brasileiro ainda acredita que políticos vulgares?

  6. O que ele está dizendo é um absurdo.

    Após 40 anos de liberalismo norte-americano, o Brasil e os demais países em desenvolvimento só pioraram sua situação econômica.

    Agora, em vez de reconhecer o fracasso do liberalismo, o Sr. Kanitz nos diz que a culpa é das políticas de substituição de importações que nunca foram implementadas.

    É melhor rir do que chorar.s absurdo lo que afirma.

Leave a Reply

UA-1184690-14