Assisti várias lives do BTG, XP e Credit Suisse nesses três meses, com os melhores economistas desse país, e como sempre saio deprimido.
Nenhum, repito, mencionou o problema de falta de capital de giro próprio, muito menos como resolvê-lo.
Não identificando o problema, ficaram horas apresentando soluções (portanto, erradas) para a curva longa, câmbio, juros, deficit fiscal etc.
Mas com muita convicção, o que me preocupa ainda mais é porque quem nada entende de como as empresas funcionam, os seguem.
Assim impedindo os problemas verdadeiros de florescerem.
Vou desenhar novamente de outro ângulo.
Na época de Keynes, todo consumidor precisava dar uma “entrada” de 20% a 40%, um adiantamento ao camiseiro, alfaiate, construtor, marceneiro e até na compra de um carro.
Era com essa “entrada”, que esses fornecedores compravam a matéria prima necessária.
Keynes achava que as recessões se perpetuavam por falta de demanda, pura e simplesmente.
Esquecendo-se de que parte dessa “demanda” era na realidade o capital de giro próprio necessário.
Que naquela época nenhuma pequena empresa possuía depois de uma recessão, como agora no Brasil.
Até hoje a construção civil depende desses 20% de “entrada”, e até 1984 a estatal Telebras exigia 100% de “entrada”.
Demanda para telefones no Brasil existia na época, e muita, mas era essa estatal que não possuía o capital de giro próprio necessário.
Por isso, por 20 anos os pobres não tinham acesso a comunicação nem a informação, condenados a pobreza por essa mesma estatal.
Esse desconhecimento de Keynes, Hayek, Mises, Krugman, que jamais mencionam “necessidade de capital de giro”, somente “investimentos e capital fixo”, acaba sendo replicado por todos esses economistas do BTG, XP e Credit Suisse.
Em vez de financiar 100% da demanda, que muitos propõem com bolsa família, bolsa dos invisíveis, investimentos em infraestrutura, bastaria financiar 20% em capital de giro próprio necessário.
Justamente o que falta para essas empresas “girarem” sua capacidade ociosa, gerando produtos, salários e matérias primas pagas.
As medidas que propõem são inviáveis com esse deficit fiscal porque são cinco vezes mais caras, e por serem caras geram mais deficit fiscal.
Estamos numa espiral desastrosa e nenhum deles percebe.
Alguém, por favor, traduz tudo isso?
Eu honestamente não estou conseguindo explicar e o tempo está passando.
E o pronampe, não vem em boa hora para ajudar no capital de giro das empresas?
Pronampe, se não oferecer garantia real, esqueça o crédito.
Professor, embora concorde plenamente com seu argumento, me parece também que quando tem o capital de giro, as empresas aproveitam os momentos para lucrarem mais, aumentando seus preços, como fizeram várias indústrias nessa pandemia, o que gera redução de demanda. Numa situação como a atual, me parece sim, muito dificil conciliar a falta de emprego, a redução drástica de renda, e o aumento da demanda com a proposta do capital de giro. É pra estudarmos muito mais profundamente. Grato.
No momento atual sem vendas as empresas não tem garantia para novos empréstimos para capital de giro. As empresas tem a necessidade de cobertura dos atuais passivos e não tem condições para a tomar novos empréstimos. Todos estão pregando, alongar pagamento de fornecedores, porem o cliente de um é fornecedor de outro.
Faz sentido. O capital de giro é fundamental. O problema é que o custo do crédito continua proibitivo para os que não tem garantia real, já que mesmo com a baixa da taxa Selic os spreads continuam em níveis muito elevados.
Além disso praticamente não existem investimentos em capital de risco no Brasil.
A solução possível a curto prazo é que o governo use os bancos públicos para fornecer capital de giro a custos acessíveis para aqueles que não tem garantia real e/ou tenham risco mais elevado. Não é a situação ideal de livre mercado, mas é uma das poucas possíveis nesse tempo de pandemia.
E como “consequela”,quem não tem capital de giro acaba por compensar na omissão da nota, no inadimplemento de obrigações acessórias etc. Bem vindo à informalidade.
Isso não vai mudar nunca e tem relação com o apetite ao risco do empreendedor e ou investidor. “Especialistas em Finanças Empresariais” convencionaram que capital de terceiros é mais barato que capital próprio. Isso é ensinado em todas as escolas de finanças. Só que nos momentos de crise, parece que esta convenção não funciona muito bem, não… As empresas realmente capitalizadas, com capital próprio,que não tem que pagar juros para nenhum banco, zero de despesa financeira, passam ao largo da crise em ótima condição e ainda sai na frente dos seus concorrentes quando a crise acaba, além de ser muito, mas muito mesmo, mais lucrativas do que seus concorrentes.Tem que mudar é a cabeça dos nossos “especialistas”, professor Kanitz.
Prezado Kanitz,
Um dia eu aprendi que existe uma longa distância entre o “ideal” e o “possível”. Acho que se trata disso agora. Ter capital de giro próprio seria o ideal, mas isso é possível? Para quem? Para quantos? Fica a reflexão… obrigada!
Professor, você fica assistindo pessoas que são pagas para fazer propaganda de banco e dos seus produtos?
Xp é do Itaú, Btg é um banco, logo o pessoal deles vai falar mal dos bancos? Se não tem capital de giro o problema é do empresário, mas não me venha pedir empréstimo se não tiver 5x de reserva e reprocidade no banco.