Perdoem-me por voltar ao assunto, mas é importante entender realmente o que fez o mundo parar.
Não foi o vírus.
Não foi um súbito “colapso da demanda”, nem “a falta de estímulos corretos”.
Da ótica da administração não se justifica todo esse desastre, só porque as empresas pararam de produzir por somente 45 dias.
Pensem bem.
Tampouco se justifica todos esses pacotes trilionários de estímulos, quando no fundo tiramos talvez 45 dias de férias, em 70% da economia.
Os bois estão engordando, e a soja está crescendo.
Afinal, muitas empresas param anualmente por 30 dias dando férias coletivas e nada acontece.
Eles devidamente preparam previamente estoques dos produtos que fabricam, e o setor atacadista supre o mercado nesse período.
O que realmente ocorreu é que colocaram o rei a nu, algo que venho alertando há anos.
Todo esse desastre foi deflagrado pela crônica falta de capital de giro próprio desde o capital de giro das famílias, até o capital de giro das empresas.
Cada família precisa acumular capital de giro próprio nos anos de vacas gordas, para enfrentar períodos sem entrada de recursos, por perda de emprego por exemplo.
No passado remoto estocávamos comida por sete anos, lembram-se?
Hoje, especialmente nas famílias onde a mulher também trabalha, algo recente, as chances de um ou outro perder o emprego dobra de probabilidade.
Ou seja, os 33% de americanos despedidos afetaram 55% das famílias. É muita gente.
O americano médio tem somente US$ 500 de liquidez imediata e só.
E essas mesmas famílias têm em média US$ 8.500 de dívidas só no cartão de crédito.
Ou seja, capital de giro negativo por família de US$ 8.000.
Isso num país onde a média tem mais de oito anos de “educação”.
Por isso as famílias imediatamente reduzem seu consumo, não por causa do vírus ou confinamento, mas por não terem reservas para uma emergência, como esta.
Param de comprar, atrasam pagamentos.
E aí entra uma espiral descendente, onde o setor varejista para de pagar o setor atacadista.
Isso porque também não possuem o capital de giro próprio suficiente para sobreviver nem mesmo 4 meses com vendas baixas.
O atacadista para de pagar o produtor, que também não tem o capital de giro próprio necessário para amortecer esse desequilíbrio.
O produtor por sua vez não paga o fabricante de peças.
Que para de pagar o setor de matéria prima, que para de pagar seus funcionários, e o ciclo se repete e piora.
Os vasos comunicantes embolam e param.
E posso lhes garantir que esses trilhões de “estímulos”, não chegarão onde precisam, muito menos para as empresas sem capital de giro, o cerne do problema.
Basta perceber que ninguém sabe qual a empresa que mais precisa de capital de giro próprio.
O FRED americano desde 1967 não calcula mais o CAPITAL DE GIRO das empresas americanas, nem percebeu que estava diante de um problema que estava piorando, e que por isso deveria ser acompanhado de perto.
Queda persistente que Melhores e Maiores também apontava desde 1964, e que sou o único que acompanha até hoje.
Lá como aqui, o Ministério da Economia está pilotando a economia às escuras, tanto quanto nossos Ministros da Saúde.
Tomam decisões equivocadas por não ter os dados certos para analisar o que ocorre na economia real.
O nível de capital de giro já estava estrategicamente muito baixo em 2019, aqui e nos Estados Unidos, colocando em risco a nossa Economia, algo que muitos que me seguem já sabem.
Não foi o vírus que gerou esse desastre econômico.
Foi a falta de capital de giro próprio suficiente para enfrentar essa crise, por parte das empresas e das famílias.
E o pior, no post mortem que será feito dessa crise por historiadores e economistas, tenho a absoluta certeza de que novamente não aprenderemos a lição.
Keynes sequer analisou a falta de capital giro próprio das empresas depois de três anos de recessão, sequer mencionou essa variável na sua Teoria do Emprego.
Por isso ninguém vai recomendar a partir de 2021 que famílias passem a pensar em termos de capital de giro necessário.
Nenhum livro de Economia vai propor que no futuro os governos tenham o capital de giro próprio necessário para enfrentar crises em vez de dívidas monstruosas.
Pegos de surpresa, economistas de governo vão manipular a contabilidade das nações, imprimindo e digitalizando moeda falsa a rodo.
Ao contrário daquilo que ensinamos em Administração Responsável das Nações.
“Nenhuma reserva pública pode terminar antes do término de uma recessão, senão a economia entrará em depressão.”
“Todo país e toda família devem acumular reservas financeiras adequadas como forma de proteção.”
Concordo em número, gênero é grau.
Identifiquei isso logo no começo da pandemia. Não sabia dar o nome correto à isso. Mas decidi naquele momento formar uma reserva financeira para momentos como esse, que espero não se repita. e que me permita se for o caso passar por um período desses sem o pânico que senti.
Também senti a falta que faz a educação financeira para a vida, seja por parte das famílias (e na maioria das vezes as famílias também não a possuem)quanto a prender em ambiente escolar.
Perfeito, Professor!!!
Pior ainda nas pequenas e médias empresas, onde o empreendedor mistura o caixa da PF com a PJ, financia o que pode; carro, celular, casa etc e não guarda um centavo sequer para períodos de crise. E olha que crise não falta na história do Brasil.
Capital de giro, reserva financeira, poupança para crises etc, qualquer que seja o nome, deveria ser tratado como uma espécie de imposto, ou seja, obrigação mensal de guardar um pouco, aplicar e dormir mais tranquilo.
A boa e antiga lição de casa, não gastar mais do que ganha, e poupar no mínimo 10%.
Boa tarde, Mestre!
Obrigado por doar seu tempo e conhecimento.
Faça uma aula sobre capital de giro e gestão responsável das nações. Será muito enriquecedor aprender mais com o senhor.
Fica com Deus!
Concordo Prof Kanitz, Isso parece aquele sujeito que teve pane seca porque anda sempre com pouca gasolina e culpa a estrada por não possuir posto de combustível…
Parabéns ilustre professor. Obrigado pela matéria , excelente. O ex-presidente Lula falou que não haveria problema se o governo imprimisse dinheiro !!! Assim o ilustre e iluminado Presidente deve não ter assistido a aula sobre Capital de Giro?????
Sim, Professor, mas resta a pergunta: Por que não há capital de giro? Perdoe-me a ousadia, mas respondo: o capitalismo financeiro revela-se um mal em si próprio, pois gera riqueza virtual e a tendência é o achatamento das classes sociais. Todos, na sua maioria, hão de migrar para o “comunismo da pobreza”. Seremos todos miseráveis. Daí, resta outra questão: Por quê?
Então podemos concluir que Nova Zelândia, Coreia do Sul, Alemanha dentre outros poucos, possuem um bom capital de giro? Isto é, Governos, empresas e cidadão.
Ponto de vista muito lucido. Profe, continua afiado e preciso nas análises. Parabéns.
Na minha humilde inteligência pensei nisso o que professor relatou. Tenho um amigo que só sabe assinar o nome, sempre foi servente de pedreiro e não passa crise. Tem duas casas e uma boa poupança.
Sem dúvida. O estímulo ao endividamento como fator de desenvolvimento é recorrente. Aí, quando precisamos de reserva, não temos – pior, só aumentamos as dívida.
É um fato real essa questão primária do capital de giro e seus reflexos…principalmente, em PMEs com mentalidade de empresa “objeto” (enfoque somente operacional).
Muito interessante. Faz todo o sentido para mim. Esta lição me foi ensinada pelos meus pais, 66 e 67 anos de idade, a reserva familiar – capital de giro familiar – é a chave para passar por momentos de turbulência como estes. E me faz reforçar uma máxima que faço questão de replicar “o segredo não esta em quanto se ganha e sim em quanto se gasta”.
É preciso que se aprenda alguma coisa com esta situação. Não é a primeira crise a qual passamos…Precisamos evoluir….pra ontem.
Hertz, Sears, aéreas, outras grandes, também sem atual de giro? Ou é choradeira de empresário oportunista pra surfar em financiamento barato e contratação de mão de obra faminta????
Kanitz é um dos meus ídolos há mais de 40 anos.
Mas….discordo dessa tese ou teoria ou história de capital de giro.
Com salários miseráveis (excessao do serviço público) que a maioria dos empregadores paga ninguém jamais conseguirá guardar 10% para capital de giro. Com saúde, educação, moradia e alimentação de custo altíssimo desde a independência do Brasil mal da viver, quanto mais acumular capital de giro.