No primeiro ano que levantamos os dados das 500 Maiores empresas do Brasil, o que mais nos impressionou foi a falta de capital de giro das empresas brasileiras.
Em 1974, praticamente 30% nem sequer possuíam capital de giro. Capital de Giro são os recursos necessários para colocar os Ativos Fixos ou Capital Fixo para trabalhar, daí a palavra “giro”.
Nossas empresas eram predominantemente geridas por engenheiros, daí a maior ênfase em Capital Fixo, máquinas e equipamentos, e pouca ênfase em Capital de Giro, capital necessário para compra de estoque de matérias primas, produtos em processo, e financiamento de clientes.
Uma das razões das nossas recessões serem muito mais prolongadas do que as outras, é a falta de capital de giro para girar os equipamentos ociosos.
Por outro lado, recessões longas aumentam o capital de giro das empresas, na medida que clientes não renovam seus pedidos, mas pagam o último pedido feito.
Digamos que a Volkswagen salda a última compra de autopeças de um fornecedor, mas não renova o pedido de R$ 6.000.000,00 de peças. Isso representa 30% do faturamento do fornecedor, criando uma situação deveras séria e perigosa, mas num primeiro momento libera R$ 6 milhões de capital de giro que poderá ser usado para postergar uma falência, pelo menos por vários meses.
Depois de oito meses, esses R$ 6 milhões são reduzidos a R$ 2 milhões, mas a empresa ainda sobrevive, quando a Volkswagen renova seu pedido de R$ 6 milhões de peças do fornecedor.
Ocorre que o fornecedor não tem mais capital de giro para comprar matéria prima, pagar impostos como IPI sempre adiantado, transporte e outras despesas.
E estamos falando das 500 Maiores, imaginem a situação das pequenas e médias empresas que é muito pior.
Empresas como AMBEV e Pão de Açúcar são conhecidas por espremerem o capital de giro de seus fornecedores, exigindo prazos de pagamento de suas compras de até seis meses, quando ainda não atrasam mais 20 dias.
Empresas como AMBEV e Pão de Açúcar poderiam estar comprando a vista, com belos descontos, porque para elas o custo de financiamento é bem menor do que para a pequena e média empresa.
Essas são partes da consequência de se entregar diretorias financeiras a engenheiros e economistas sem treinamento apropriado, e com visão deturpada do que seja maximizar lucro a curto prazo.