[pullquote]Somos latinos, emoção faz parte de nossas vidas.[/pullquote]
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Com o advento da TV em 1950 surgiu uma nova forma de transmissão de conhecimento humano, a entrevista.
A entrevista bem conduzida, o que é raríssimo, é muito mais eficaz do que a transmissão de conhecimento via livros.
Nos livros científicos tudo é racional e sem emoção.
Por isso livros de Matemática e Ciências são chatos, e a maioria dos estudantes brasileiros preferem profissões Sociais a Exatas.
Por isso lemos mais Ficção do que livros Científicos, chamados erroneamente de Não Ficção, que já diz muito.
Somos latinos, emoção faz parte de nossas vidas.
Um bom entrevistador pode tornar um matemático e um cientista muito “mais humano”.
“Você não ficou com medo de expor sua teoria?”
“Você não questionou a si mesmo, não abandonou a ideia no início por que alguém já deveria ter descoberto algo tão “óbvio”?”
Eu escrevia meus artigos da Veja umas 40 vezes, e uma das vezes era especificamente para tirar as emoções, hoje traduzido em ser politicamente correto.
Um bom entrevistador tem a obrigação de fazer o entrevistado brilhar, “nossa, como ele é inteligente”. O entrevistado, bem entendido.
Em vez de levar perguntas prontas, em vez de ficar esperando quando colocar a bomba no colo do entrevistado.
Já fui entrevistado algumas vezes e fica claro que nenhum está ouvindo e raciocinando no que você está dizendo.
Estão pensando, “quanto mais tempo o deixo responder antes de ir para a próxima pergunta que anotei aqui embaixo?”.
Vocês não veem essa cena, mas em 90% do tempo o entrevistador nem está mais olhando para você, e sim procurando a próxima pergunta na sua lista. O que é brochante, eu paro de responder na hora.
Quando me comentam “como o William Waack”, ou outro qualquer, é inteligente, eu digo que então você perdeu o seu tempo.
O objetivo de um entrevistador é mostrar a inteligência do entrevistado e não do entrevistador.
Outro que peca nesse sentido é Jô Soares, que por 40 anos teve um único objetivo, e você já sabe qual é.
No Roda Viva, o objetivo ultimamente dos “entrevistadores” é mostrar que o entrevistado é um completo imbecil.
“Você disse ano passado”, “seu livro afirma que” e assim por diante.
Um bom entrevistador perguntaria “qual será o seu próximo livro?”.
“Que ideia você está tendo, mas ainda está com medo de vir a público?”
Um bom entrevistador não tenta concorrer com o entrevistado, mas agir como um parceiro de ideias, e de boas ideias.
Note que raramente você vê na TV, mesmo 70 anos depois, um matemático sendo entrevistado, um cientista, um estatístico, um pesquisador.
No Jô Soares já vi prostitutas, travestis, políticos, comediantes, cantores, mágicos, economistas sendo entrevistados, mas muito poucos cientistas que pesquisam coisas novas.
Entrevistar é um ato de amor. É fazer o outro brilhar, por mais inteligente que você realmente seja.
Nosso atraso começa por aí.
Professor Kanitz, parabéns por fazer a nossa inteligência e reflexão brilharem com os seus artigos. Isso o faz um grande escritor.
Prof., Kanitz:
Concordo que há muitos entrevistadores despreparados. Assim como existem profissionais nas mais diversas áreas não gabaritados. Esse fato não é nenhuma novidade basta ver a situação que se encontra a educação brasileira quando comparada aos demais países do nosso globo.
Porém, quanto ao teor dos questionamentos por parte dos entrevistadores, há um aspecto extremamente relevante a ser levantado.
Os meios de comunicação agem como empresas e, como tais, trabalham com o foco na maximização dos lucros. Sendo assim, não medem esforços para atingir a famosa “audiência” (= fonte de lucro = R$).
Evidências científicas comprovam que a nossa propensão ao interesse por notícias negativas e pela vida alheia (fofocas) é biológica. Esse interesse é acentuado quando há membros de destaque do nosso meio social (celebridades e figuras públicas).
Os meios de comunicação sabem disso e trabalham fortemente esse ponto. Portanto, há explicação quando você coloca que: “No Jô Soares já vi prostitutas, travestis, políticos, comediantes, cantores, mágicos, economistas sendo entrevistados, mas muito poucos cientistas que pesquisam coisas novas.”
Por isso, infelizmente, espere cada vez mais polêmicas, atritos, conflitos, fofocas…