Daniel Patrick Moynihan, no seu livro Family and Nation, já argumentava que não era a pobreza que desestruturava a família, era a desestruturação da família que gerava a pobreza — uma afirmação corajosa na época e que até hoje é considerada politicamente incorreta.
Daniel era um sociólogo democrata, o que só aumentou a celeuma em torno de sua constatação pelos seus colegas de partido. Ele apontava que 25% dos negros americanos não tinham os pais morando em casa, e que isso só contribuiria para o aumento da violência da população negra americana (isto escrito em 1960).
E a sua previsão se confirmou, pois nestes quarenta anos nos Estados Unidos o número de jovens negros sem pais aumentou para 68% das famílias. Existem mais negros adolescentes nas prisões do que nas faculdades; a chance de um negro ser assassinado por um branco é de uma em vinte, e de ser assassinado por outro negro é de dezenove em vinte.
Os Estados Unidos não têm um problema racial, eles têm um problema de desestruturação de suas famílias. Pais ausentes não ensinam seus filhos a lidar com violência. Homens tipo G não investem nos seus filhos, não faz parte da cultura e dos genes.
A encrenca americana é que a população branca também está indo pelo mesmo caminho — hoje 35% dos jovens brancos não têm mais um pai como membro da família.
Homens normalmente brincam com seus filhos com jogos de empurra-empurra, luta corpo a corpo e brigas de brincadeira. Tudo faz parte de uma herança cultural milenar e de uma herança genética ainda mais longa. Você já viu animais e cachorros fazendo a mesmíssima coisa. São jogos de baixa violência, e que têm um valor didático. Exagerou, apanhou. Mordeu, de fato será mordido. Cachorros não mordem seus irmãos, só fingem. Brincando de casinha e bonequinha, uma criança do sexo masculino aprende outras coisas, mas nunca a controlar a sua violência física.
Como disse, a violência aumenta justamente quando não revidamos. Essa é a grande lição que as mulheres, que preferem aguentar quietas as violências que aturam, precisam aprender. Ficar quieto aumenta a violência. Não revidar significa legitimar a violência assimétrica.
Se você é um pai separado provavelmente não deve usar os poucos momentos que você tem no “seu dia de visitas” com as crianças para colocar limites. Seu objetivo naqueles dias será mimá-los.
Se você é um pai separado provavelmente não deve sequer estar presente para reagir imediatamente de forma moderada nas várias pequenas violências que seus filhos perpetraram. O “olho por olho” com moderação não irá prevalecer na sua família. Sua ex-esposa irá acumular reclamações para que você, no domingo à tarde, dia de visitação, discuta o assunto com sua filha ou com o seu filho.
“Mamãe me contou que na terça você fez isso, na quinta fez aquilo, e no sábado, ontem, fez assado. Eu já disse, meu filho, que você não pode atazanar a mamãe, e por isso vou tirar seu cartão de crédito por um mês.”
Gilbert and Sullivan, dois compositores ingleses, têm uma canção que diz: “A punição sempre deve corresponder à gravidade do crime.” Só eles para colocar uma frase como essa numa canção, mas poetas deveriam fazer justamente isso: colocar em versos as regras morais de seu povo.
Punir em dose tripla os três crimes da semana só porque você é separado e se encontra com o filho uma vez por semana, só irá tornar seu filho uma pessoa violenta, porque ele achará aquela punição injusta. O crime de terça deveria ter sido discutido na terça e não acumulado com mais dois eventos no domingo à tarde.
Deixar outras travessuras passar em branco porque você não as presenciou ou porque acha que a mãe está exagerando também não gera uma família que combate a violência assimétrica; pelo contrário, vocês a adotam, para os filhos receberem três punições no mesmo dia soa violência assimétrica dos pais.
Por isto todo e qualquer deslize deve ser tratado com pequenos avisos ou amenas admoestações. Para isso, você precisa de pais presentes, atentos e carinhosos.
Ótima reflexão, assunto sempre válido à ser abordado. Parabéns Kanitz.