[pullquote]Sua profissão não será de médico, engenheiro ou advogado, mas de um estudioso e curioso eterno da Medicina, Engenharia e Advocacia[/pullquote]
Uma biblioteca razoável de 5.000 livros que pode ser assimilada à razão de 1000 palavras por minuto, 2 horas por dia, nos levaria dos 8 até 68 anos para serem lidos.
Sem direito a releitura.
A maior biblioteca do mundo possui 20 milhões de livros, que nos levaria 420.000 anos para lermos, claramente impossível.
Se incluirmos o conteúdo publicado na Web, gratuitamente nestes últimos 18 meses, levaria outros 420.000 anos.
Todo ano, 50.000 livros novos são publicados o que também levaria uma eternidade para serem lidos.
Pior, a cada 18 meses dobra a informação disponível no mundo.
Não há como acompanhar, como a maioria dos leitores já deve ter percebido, embora muitos ainda tentem desesperadamente acompanhar.
Eu pessoalmente, já não leio jornais.
Nem leio livros que não tenham sido recomendados por no mínimo cinco amigos ou críticos que eu respeito.
Pior ainda é saber que provavelmente metade de tudo que eu aprendi, em 18 meses será obsoleto.
Médicos já perceberam que se não se reciclarem a cada cinco anos eles estarão fora do mercado.
O procedimento usado cinco anos atrás para uma doença, hoje já é outro.
De tudo que você aprendeu no primeiro de faculdade, talvez somente 25% continue válido no quarto ano de formatura.
Quem parar de estudar depois de formado saberá muito pouco cinco anos depois.
O que fazer nesta horrível situação?
Primeiro, perceber que a sua profissão não será de médico, engenheiro ou advogado, mas de um estudioso e curioso eterno da Medicina, Engenharia e Advocacia.
Ninguém mais será médico, advogado ou engenheiro porque a profissão é um processo contínuo, não mais um grau de escolaridade alcançado.
Portanto, o que nós deveremos aprender na faculdade para não ter que jogar tudo fora na formatura?
Eu me concentraria em aprender uma visão de mundo, aprender a pensar como ser humano bem como a pensar como engenheiro, médico e advogado.
Quais são as diretrizes, os caminhos, o espírito da coisa que permeia a sua profissão e o país em que você vive?
E onde se aprende tudo isso?
Não é fácil, mas você vai encontrar algumas respostas a estas questões na filosofia, religião, literatura, ciência política e na história das ideias.
Poucas escolas ensinam isto, mas lembrem-se que tudo que é estatal é demorado. Precisam mudar a lei de Diretrizes e Bases, os currículos, os professores, ter aprovação dos economistas do MEC, e se isto não for feito em menos de 18 meses, terão de começar tudo de novo.
Mas não é preciso esperar o Estado, um dos livros mais vendidos hoje é o Mundo de Sofia, um livro de filosofia pura, sinal dos novos tempos.
Eu tentei ensinar meus filhos a não serem advogados, médicos ou economistas, mas a verem o mundo de várias formas.
A verem o mundo como veem os advogados, médicos e até economistas.
Embora na maioria das vezes eles estejam equivocados, eles têm uma forma peculiar e interessante de abordar os problemas do mundo.
Eu tentei ensiná-los a apreciar e respeitar o poder da matemática, os conceitos elementares de estatística, a simular eventos numa planilha eletrônica, ferramentas essenciais para se entender e observar o mundo, qualquer que seja a sua profissão, qualquer que seja o volume de informação disponível no mundo.
Dei para os meus filhos um software matemático chamado Simulink, que simula o comportamento de sociedades, porque cada vez mais acredito que sociedades são regidas por regras simples, mas que geram comportamentos e resultados complexos.
Um dos grandes problemas do Brasil é justamente que perdemos ou talvez nunca criamos uma visão de mundo compartilhada.
Tivemos mais de oito Constituições da República, só para citar um exemplo, que ninguém sabe de cor.
Os Estados Unidos tiveram uma única, que todos conhecem e concordam com a visão de mundo contida nela.
A família moderna já não ensina aos filhos uma visão de mundo que lhes ajude a enxergar melhor o que veem, os próprios pais estão perdidos.
Sacrificados que foram pela educação especialista e imediatista que receberam do Estado em vez de uma educação humanista que foi esquecida.
Afinal, o Estado quer um retorno imediato sobre o investimento feito com o dinheiro público, criando uma Universidade produtivista e tecnocrática que serve os interesses imediatos do Estado, nunca os interesses de longo prazo do indivíduo ou da coletividade.
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