BC Deveria Garantir Dólares e Câmbio?

Nossa Política Econômica foi sempre garantir ao investidor estrangeiro um câmbio fixo mais ou menos previsível.

Além de suprir uma oferta de dólares quanto estes estão em falta, como acaba de fazer o BC, no montante de US$ 60 bilhões de dólares. 

Neste artigo, que escrevi 10 anos atrás, argumento que não é função do Estado, ajudar os estrangeiros que querem sair às pressas deste país.

Quem deveria se preocupar com suprimento de dólares futuros deveria ser o investidor internacional, e não o Governo Brasileiro.  Era só o que faltava, um governo de esquerda ajudar os capitalistas estrangeiros a sair do Brasil. 

Peço aos estudantes de Administração Econômica que estudem esta proposta com carinho, para que possamos mudar esta política do Estado, que na nossa opinião não é necessária.

Escrevi o artigo como uma carta aberta a um investidor internacional, daí a ironia em alguns trechos.

Prezado Mr. John Smith,

Agradeço sua carta mostrando interesse em investir no Brasil.

Sobre as suas perguntas sobre o risco cambial, e a capacidade do Banco Central suprir dólares para a remessa de lucros, juros e dividendos sempre que vocês precisarem, que o Sr. alega ser uma das funções do Estado, quero lhe orientar no seguinte:

Primeiro gostaria de lembrá-lo que ao comprar uma empresa já existente no Brasil, como o Pão de Açúcar por exemplo, ao contrário do que se possa imaginar, os senhores não estarão ajudando a gerar empregos, nem a aumentar a produção.

Vocês estarão comprando o que já existe.

Num primeiro momento, nossa situação até ficará pior, já que os dividendos que eram pagos aos acionistas brasileiros em reais, passarão a ser pagos em dólares.

Investir num país sem se preocupar se no futuro ele terá ou não as divisas para repatriar o capital e os lucros tem sido um erro de vocês investidores, e um erro ainda maior dos nossos governantes que se acham no dever de fornecer esta “estabilidade cambial”.

E é esse erro que está gerando a atual confusão cambial que está nos afligindo agora.

Acreditar que o livre mercado se encarregará de suprir os dólares na hora em que os investidores quiserem, ou deles necessitarem, provou ser um enorme equívoco. Acreditar que o Estado supriria, também.

Tem outra saída?

Se os senhores com os seus contatos internacionais redirecionarem a produção da empresa a ser comprada para o mercado exportador, vocês estarão gerando as divisas dos juros e dividendos a serem remetidos, sem mais nunca depender do nosso Banco Central, e nem da nossa taxa de câmbio.

As suas preocupações diminuirão com relação ao Risco Brasil e o risco cambial.

Se o Brasil declarar a moratória novamente, aquilo que vocês passarão a exportar lhes garantirá o pagamento, e o câmbio nestas horas explode reduzindo seu risco cambial.

6 Comments on BC Deveria Garantir Dólares e Câmbio?

  1. Professor Kanitz, esta é uma colocação típica da escola austríaca de economia, responsável pelo maior ciclo de desenvolvimento nos países onde ela é adotada. Aqui e nos países socialistas, impera a escola de chicago que tem provocado toda esta confusão e atraso. É imperioso mudar esta política que leva ao caos. Felizmente de última hora estamos vendo os americanos despertarem, ao limitarem o teto de sua dívida pública que já é monstruosa, fruto desta escola.

  2. Caro Prof. Kanitz,
    A idéia de compartilhamento de risco (contida no trecho “não é função do Estado suprir de dólares na quantidade, preço e hora que o investidor quiser, e pelo menos, argumentava, parte desta responsabilidade deveria ser compartilhada”) é de uma justiça lógica impressionante.
    Se fosse enumerar o maior erro de FHC, estaria muito inclinado a dizer que foi a falta de barreiras à saída de capitais (sei lá, de 3, 6 meses, 1 ano depois de solicitada formalmente o envio de dólares para o exterior – a depender do “quantum” que se deseja enviar).
    A justiça lógica de sua post reside no fato de que é exatamente este o princípio que o sistema bancário usa em qualquer lugar do mundo. Qualquer pessoa que tenha, por exemplo, 10 milhões de reais em sua conta corrente não pode, quando bem entender, chegar em uma agência e fazer um grande saque. A partir de determinada quantia, é necessário avisar com antecedência.
    Se o sistema bancário tem esse direito (que, quem conhece como funciona os bancos sabe que é absolutamente razoável), porque não usar a mesma lógica para os Bancos Centrais? Ora, os BCs contêm em seu DNA a mesma natureza que justifica o “aviso prévio de saque” nos bancos privados. Essa natureza é justamente a gestão de “reservas bancárias” que, no caso do BC, são reservas cambiais.
    Brilhante trazer novamente este tema à tona prof., uma medida como esta ajudaria bastante a trazer certa estabilidade de longo prazo no nosso câmbio. Senso de oportunidade fantástico. É, como o sr. falou, compartilhar o risco. Nada mais justo.
    Abraço.

  3. Acompanho algumas postagens do prof. Kanitz e também percebo semelhança das suas idéias com a escola austríaca de economia (embora na administração o Drucker é referência e possui linguagem próxima a escola austríaca mais o pensamento de Schumpeter)

  4. Como administrador posso dizer que todo administrador que se preze e possua o conhecimento de economia que cada um de nós deveria ter, simpatiza mais com a escola austríaca (mais baseada em Mises e Hayek do que em Schumpeter) do que com as escolas intervencionistas.
    Talvez por conhecermos melhor como as empresas e os diferentes mercados funcionam por dentro, ao invés de estudar “o mercado” como um agregado homogêneo e simplório, como fazem as escolas desenvolvimentista e monetarista.
    No entanto, as idéias do Kanitz não são totalmente austríacas, pois ele não defende a separação total entre estado e economia.
    Quem não conhece a Escola de Economia Austríaca, pode encontrar diversos artigos, livros e estudos acadêmicos em http://www.mises.org.br.

  5. Caro Prof. Kanitz,
    Concordo com sua tese, investidores externos deveriam se comprometer com a estabilidade cambial também.
    Gostaria de comentar outro aspecto da estabilidade cambial: A inflação nos USA.
    Interessante que o Federal Reserve usa ferramentas (juros baixos e emissão de moeda) que poderiam gerar inflação, mas os preços do mercado interno dos USA continuam estáveis, inclusive com a pressão do déficit fiscal.
    Mas então por que não tem inflação? É que existem dois mercados para o meio circulante primário (M1): o interno e o externo. Os dólares emitidos vão para o mercado externo, onde essa expansão monetária está sendo compensada com a desvalorização da moeda americana frente à de outros países.
    Simplificando, os dólares emitidos não vão para o supermercado ou shopping, vão para credores internacionais que não comprometem a inflação no mercado americano.
    Então porque não usamos a mesma lógica para conter a valorização do real? Podemos emitir “reais internacionais”. Taxas de juros astronomicamente brasileiras atraem muito capital volátil, que viajam pelos mercados internacionais, prejudicando nossa estabilidade cambial. Para esses investidores os reais emitidos ficarão nos títulos federais, longe do mercado de consumo interno. Além de ser mais uma receita para o governo esses reais internacionais favoreceriam o controle cambial.

  6. Django
    Professor, com estes que comentaram seu artigo com citações de escolas econômicas me sinto até constrangido como leigo de escrever algo.O BC brasileiro não tem outra alternativa a não ser o gestor do cassino de capital externo,tão havido por receber dólares para financiar um estado inchado de um pais sem logística e estruturas que garantam investimentos que dariam retorno.Não vou me alongar pois a minha percepção é de um cidadão comum que enxerga o BC como o empresario que vive nos bancos pagando juros para continuar bancando sua ineficiência.Falei!

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