[pullquote]Gestores não têm que se sentar para um exame formal para demonstrar seu conhecimento, e muito menos ficar atualizado em seu campo. [/pullquote]
Este artigo publicado pela Harvard Business School se aplica perfeitamente ao problema número um deste país, que é a desorganização total da esfera pública e coletiva da sociedade brasileira.
Os autores são o meu guru Rakesh Khurana e Nitin Nohria, Diretor da Harvard Business School, e é um manifesto dos administradores americanos, que mudei para brasileiros.
Chegou a hora de reconhecermos Administração como uma verdadeira profissão.
Administradores perderam parte da sua legitimidade nesta última década em face de um colapso generalizado de confiança institucional e o fracasso da autoregulamentação do mundo dos negócios.
Administradores devidamente formados deveriam adotar um novo modo de olhar o seu papel, que vai além de sua responsabilidade para o acionista, a fim de incluir um compromisso cívico e pessoal para o seu dever como guardiões institucionais da sociedade brasileira.
Em outras palavras, chegou a hora de reconhecer que a administração finalmente se tornou uma profissão.
Verdadeiras profissões têm códigos de conduta, e o significado e as consequências desses códigos são ensinados como parte da educação formal de seus membros. Por acaso, administradores amadores não têm compromisso moral com suas condutas.
Precisamos de um órgão de classe composto por membros respeitados da profissão, para supervisionar o cumprimento deste código de ética de seus membros.
Através desses códigos de ética, instituições profissionais forjam um contrato social implícito com outros membros da sociedade, que diria em outras palavras o seguinte:
Confiem em nós para controlar e exercer as funções que vocês amadoristicamente administravam.
Em troca, prometemos garantir que nossos membros são dignos de sua confiança, que eles não só são competentes para executar as tarefas que lhes foram confiadas, mas que vão se comportar com elevados padrões de ética e integridade.
Acreditamos que uma profissão, com bom funcionamento das instituições de supervisão e conduta, irá conter a má conduta porque o comportamento moral é parte integrante da identidade dos profissionais, uma autoimagem que são motivados a manter.
A ideia da administração como uma profissão não é nova.
Foi lançada nos Estados Unidos com grande esperança há um século atrás com a criação de escolas de comércio e a universidade com faculdade de Administração de Empresas.
A vanguarda de empreendedores, acadêmicos e líderes empresariais esclarecidos, viu na ascensão da grande empresa um profundo desafio à ordem social existente.
Quando grandes corporações começaram a vender suas ações ao público, e assim distribuir os direitos a propriedade e o controle da empresa a todos os membros da população e não somente a um seleto grupo de capitalistas, criamos um coletivo de interesses em comum (os dos acionistas, clientes, fornecedores, trabalhadores, funcionários do governo).
Todos proclamavam o direito de legislar e controlar essa entidade nova e poderosa.
As escolas de Administração, por sua vez, foram concebidas como uma forma de legitimar o direito de outro protagonista social para controlar a empresa pública: um novo grupo conhecido como administradores e gerentes.
A estratégia para legitimar a administração partiu de três instituições vistas como os pilares da Era Progressista:
a ciência,
a ética profissional,
e as pesquisas na ciência da administração de universidades americanas.
Os líderes do movimento da escola de negócios queriam garantir que a grande corporação seria administrada no interesse da sociedade como um todo, transformando a administração em uma profissão de boa fé, com uma sólida base educacional, certificações de excelência e um código de ética.
Este movimento tem sido minado ultimamente pelo governo, por escolas de pensamento que querem alinhar a administração aos interesses dos capitalistas, via bônus de executivos e stock options.
A alegação de que os gestores das empresas e governo, muitas vezes amadores, não se compara com Medicina e Direito.
Ao contrário de médicos e advogados, a sociedade acredita que gestores não precisam de uma educação formal, muito menos uma certificação para exercê-la e afetar a vida de milhares de pessoas.
Muitos acham que os gestores governamentais, empresários e gerentes não formados como tal, sequer precisam aderir a um código universal de conduta, rigorosamente supervisionado.
Empresas definem e cumprem as missões, códigos de valores compartilhados e juízos de valor, mas não há nenhum conjunto de valores universalmente aceitos para o profissional destas empresas, apoiado por um órgão com o poder de censurar os gestores que desviam do código de ética que muitos até desconhecem.
Hoje, o poder do gestor amador de afetar a vida das pessoas e nações é imenso.
Várias empresas são maiores que países.
O difícil é determinar se deveríamos enveredar esforços nesta direção.
Exigir educação formal tornaria os atuais gestores individuais mais eficazes?
Poderíamos chegar a um consenso sobre um conjunto de normas comuns que seria plausível implantar?
Esses códigos de ética teriam impacto sobre o comportamento?
Graças a programas de televisão, filmes e livros, a educação de médicos e advogados tem se tornado um assunto de interesse e respeito coletivo.
Normalmente, os verdadeiros profissionais são submetidos a um programa de pós-graduação intenso de três a quatro anos.
Na graduação, eles então têm que obter uma licença formal para a prática por meio de um estado ou exame abrangente federal destinados a testar seu domínio do corpo de conhecimento o seu grau de educação ostensivamente conferido.
Uma vez que eles passam neste teste, eles têm que investir em uma certa quantidade de treinamento clínico e de educação continuada para ficar a par do conhecimento em evolução.
Em alguns campos, profissionais licenciados devem periodicamente passar por exames complementares a fim de recertificação das suas licenças.
Gestores não enfrentam tais desafios.
Embora o MBA tem sido o grau de crescimento mais rápido de pós-graduação nos últimos 20 anos, não é um requisito para se tornar um gerente.
Gestores não têm que se sentar para um exame formal para demonstrar seu conhecimento, e muito menos ficar atualizado em seu campo.
Não há nenhuma obrigação para que eles saibam alguma coisa sobre o investimento em novos e inovadores derivados financeiros ou veículos para fins especiais, por exemplo, mesmo que eles sirvam em conselhos necessários para aprovar tais operações potencialmente arriscadas.
Quando a sociedade por inteiro irá acordar?
PS. Quando a sociedade brasileira irá acordar?
Permitimos a qualquer um ser Presidente do BNDES, Eletrobrás, Caixa Econômica, Ministro da Indústria e Comércio ou Previdência Social.
Permitimos que criassem lei 7988/45 exigindo o fechamento das Faculdades de Administração, e permitimos aos beneficiados desta lei a serem gestores de tudo.
Até quando?
Sr Kanitz, concordo com seu pensamento, mas a tradição brasileira “rejeita” o profissional administrador por causa que sempre as empresas foram administradas por familiares com conhecimento empírico. Terminei o curso de contabilidade em 1986, e somente ouví dizer sobre a necessidade do administrador em seu site e blog no ano de 2005! Creio que nem os meus professores (atualizados) da “fundação” em que estudei e paguei caro sabiam desta necessidade. Uma pena, já que quebrei uma empresa por falta de conhecimento administrativo e nem sequer imaginei que existiriam profissionais que eu poderia contratar! uma lástima e uma tragédia no ensino brasileiro
Profissionalização traria padrões mínimos aceitáveis para as práticas de negócios, Sr. Kanitz, concordo plenamente com seu pensamento, mas acredito que isso seria apenas o começo, pois garantir padrões não significa qualidade. Copiar os melhores modelos no mundo e tentar inda melhora-los na prática, e não precisa nem inventar um novo.