Meu colega começou a soluçar e, cabisbaixo, se preparou para deixar a sala. O silêncio era sepulcral.
Quando estava prestes a sair, o professor fez seu último comentário:
-Agora vocês sabem o que é ser despedido. Ser despedido sem mostrar nenhuma deficiência ou incompetência, mas simplesmente porque um bando de prima-donas em Washington meteu medo em todo mundo.
Nunca mais na vida despeçam funcionários como primeira opção.
Despedir gente é sempre a última alternativa.
Aquela aula foi uma lição e tanto.
É fácil despedir 620 funcionários como se fossem simples linhas de uma planilha eletrônica, sem ter de olhar cara a cara para as pessoas demitidas.
É fácil sair nos jornais prevendo o fim da economia ou aumentar as taxas de juros para 25% quando não é você quem tem de despedir milhares de funcionários nem pagar pelas conseqüências.
Se você decidiu reduzir seus gastos familiares “só para se garantir”, também estará despedindo pessoas e gerando uma recessão.
Se todas as empresas e famílias cortarem seus gastos a cada previsão de crise, criaremos crises de fato, com mais desemprego e mais recessão.
A solução para crises é reservas e poupança, poupança previamente acumulada.
O correto é poupar e fazer reservas públicas e privadas, nos anos de vacas gordas para não ter de despedir pessoas nem reduzir gastos nos anos de vacas magras, conselho milenar.
Poupar e fazer caixa no meio da crise é dar um tiro no pé. Demitir funcionários contratados a dedo, talentos do presente e do futuro, é suicídio.
Se todos constituíssem reservas, inclusive o governo, ninguém precisaria ficar apavorado, e manteríamos o padrão de vida, sem cortar despesas.
Se a crise for maior que as reservas, aí não terá jeito, a não ser apertar o cinto, sem esquecer aquela memorável lição: na hora de reduzir custos, os seres humanos vêm em último lugar.
Bom, eu só acho uma coisa sobre a Sadia. Ela tinha donos, se eu sou dono da minha empresa, faço dela o que quiser, invisto onde eu quiser, se vai quebrar ou não, não importa, pois eu sou o dono. Se eles quiseram investir errado, e daí? o dinheiro é deles, se alguém se acha melhor empreendedor, monte sua própria empresa e administre-a da maneira que quiser.
Não demitir? na teoria é lindo, quero ver você no fim do ano pegar aquele monte de gente com 13º, férias, processos de ex funcionários… Ajudar o empresário nunca, mas querer mantê-los custe o que custar é obrigação dos empresários?
Pra mim, esse texto parece mais ser um texto sindical do que realmente uma solução para crises.
Todo mundo até 2007, professores e tal, nossa, semi-deuses, eles se achavam… De repente vem uma crise mundial e todo mundo fica quieto !! São muito bons pra elaborar provas de conceitos velhos, teses teóricas… Quero ver alguém desse monte de PhD, mestre, doutor e tal, daer uma solução real à crise !!! CadÊ?
Esses títulos só servem pra darem uma de inteligentes, mas na real, só sabem decorar livros e fazer textos de 100 páginas… Quero ver botar a mão na massa e arrumar a crise…
Colar na prova, nossa, é errado, mas ensinar nas faculdades e universidades um “miguézão” teórico, daí é certo…
Olá Stephen,
Eu não sou empresário. Pelo contrário, sou um trabalhador assalariado. Deveria, portanto, fazer coro com a conclusão de que não se pode demitir. Já trabalhei numa empresa estrangeira no exterior (atenção: não empresa estrangeira no Brasil, mas no exterior mesmo) e certa vez eu falei em demitir uma pessoa da minha equipe que estava criando problemas, e o meu diretor disse que a empresa “não demitia pessoas”, e que isso era um tabu muito grande na cultura do país de origem da empresa (França). Para resumir, por sorte a pessoa encontrou um novo caminho e pediu o desligamento.
Mas voltando ao ponto e tentando resumir: Não entendo essa questão de não demitir em um momento de crise. Se eu sou empresário, o dinheiro é meu, o esforço foi meu de construir a empresa, o risco foi meu, etc…, enfim, ter de “segurar” funcionários apenas pela questão “moral”, “ética” e de “responsabilidade social” não entram na minha cabeça. Então se a minha empresa faz uso de aluguel de carros, terei que manter o contrato, pagando pelo aluguel dos carros sem utilizá-los, pois do contrário o dono da locadora terá que demitir funcionários, e “isso não se faz”? Ou talvez eu até possa suspender o contrato, mas a locadora, sem receitas, deverá continuar pagando os salários aos seus motoristas?
Por fim, por favor entenda que não estou escrevendo para fazer oposição ao seu texto, mas, sim, estou tentando buscar uma forma de compreender e quem sabe mudar minha opinião. Agradeço, portanto, e se possível, o seu retorno.
Um abraço,
Wellington Selvatice
selvatice@gmail.com
Olá Kanitz. Tem razão ao afirmar que o ser humano é o último custo à ser cortado. No entanto convêm lembrar que é ele também um dos primeiros custos a ser formatado. Portanto, todo negócio deve ter métricas de desempenho, onde seja possível saber quanto de valor cada profissional agrega ao negócio, caso contrário não tem outra forma de melhorar a competitividade de qualquer instituição, seja ela pública ou privada.
Olá , bom dia..
A gestão eficiente das pessoas é apenas uma variável a ser considerada em uma crise. Há sempre melhores alternativas, a poupança é uma delas, como o controle de custos é outro.
Belo artigo.
Cabe a nós gestores observar e refletir em todas as implicações da demissão injustificada.
Prof. Kanitz
Saudações
Interessante artigo, com praticamente 12 anos, e tão atual.
Quanto ao John?
Obrigado.
Nunca mais levantou a mão para ser o primeiro a falar.
E diria mais professor Kanitz… mandando gente embora e diminuindo investimento em treinamento, quando a crise terminasse a empresa que fizesse isto, sairia na atrás, pois estaria despreparada para voltar a crescer, não aproveitando a nova onda de crescimento…
Ótima opinião. Aprendemos quando passamos pela situação. Enquanto alguns pensam que mandar embora é economia, quem vai produzir da forma como se precisa: Novos ou experientes?
Duro é que esses líderes cujo primeiro reflexo é demitir são os que mais usam o bordão ‘o nosso maior ativo são nossos colaboradores’.
Parabéns Professor, uma das melhores crônicas corporativas que tenho lido ultimamente.
Num MBA de uma franquia famosa, estudamos um caso parecido e a orientação do trabalho para o grupo era exatamente esta. Comentei com o facilitador que
se era para demitir e fechar plantas e extinguir negócios que sempre foram lucrativos, eu não precisaria de ninguém para me ensinar. Minha capacidade de análise era suficiente.
Ele retrucou afirmando que no mundo corporativo isto é uma regra. Disse ainda que deveríamos andar com a biografia do Jack Welch debaixo do braço;
Eu penso que demitir pessoas produtivas e comprometidas é o maior erro que uma empresa comete para sair de uma crise.
Nem preciso dizer que nunca mais voltei ao tal MBA..
Abraço
Odair
Lembro quando li este artigo a 1ª vez. Passou a ser referência para mim em várias situações, principalmente por já ter passado por situações parecidas anteriormente.
Desperdiçar talentos e um maiores erros que alguém pode cometer principalmente em momentos de crise. Saber avaliar a situação e buscar novos caminhos é dificil mas é no futuro será mais promissor.
Dá uma olhada a sua volta agora. Vc pode estar no escritório ou em casa, tanto faz. Pega um bloco e começa a anotar os desperdícios. No final vc vai levar aquele susto com a quantidade.
Depois pede para outra pessoa fazer e verá que ainda tem mais gasto ainda.
Outro dia fiz a conta para a minha empregada de como ela gastava mais de R$50,00 por ano para ter um produto pior do que ela poderia ter.
No local de trabalho dela, minha casa, ela rala queijo parmesão bom de R$20/kg. Na casa dela, usa queijo ralado trash de saquinho por R$30/kg. A casa dela demanda pelo menos 2 saquinhos por semana (100g), o que gera 5kg/ano.
Parece pouco, mas analogamente seria como deixar de pagar uma anuidade de R$50,00 e ter aumentado comodidades oferecidas pelo cartão de crédito. Ninguém gosta de pagar anuidade de cartão de crédito.
Se esse artigo, além de ter sido publicado em 1986, fosse lido, compreendido e aplicado pelos elementos que na época, digamos, “administravam”, a empresa Laboratórios Organon do Brasil Ltda, muito provavelmente as vidas dos dois terços(!) do total de funcionários (de uma equipe de ponta que foi sumariamente desfeita devido ao “plano cruzado”) não teriam sido tão prejudicadas. Além de que a empresa, outrora forte e independente, não sucumbiria a ponto de ter que ser absorvida para não desaparecer.
Professor, o que pode ser mais fantástico para um empresário do que ter uma empresa transbordando de pessoas talentosas e inteligentes? Olhe para o seu escritório e veja quantas das pessoas que ali trabalham realmente pagam o próprio salário? Aliás, não há entre estas pessoas tão produtivas a ponto de pagarem os salários de quatro ou cinco dos seus pares? Ser justo com os competentes é partilhar as vitórias com os incompetentes? Finalmente: quando aceitamos um contrato de trabalho, estamos nos vendendo enquanto pessoas ou apenas vendendo o nosso conhecimento, o qual deve produzir resultados econômicos superiores aos seus custos?