Este artigo foi escrito em 2005, 9 anos antes do Livro de Nassim Taleb, Anti-Fragility, que faz a mesma crítica às políticas econômicas que visam a estabilidade, robustez e não criar sistemas que consigam absorver as variações naturais da economia. É um bom resumo das ideias do Nassim em menos palavras.
Militantes antiglobalização carregam celulares da Nokia, usam o Internet Explorer para navegar na rede mundial de computadores e copiam seus protestos numa impressora HP.
Até eles são a favor do intercâmbio comercial entre os povos, embora não admitam.
O que eles abominam são as movimentações financeiras entre países, uma consequência inevitável do comércio.
Hoje, americanos e europeus podem investir os reais que recebem de suas exportações em dívidas do governo brasileiro ou na bolsa, em vez de remetê-los imediatamente de volta ao seu país.
Isso reduz os nossos juros porque aumenta a demanda por títulos do governo, juros que seriam ainda maiores se não existisse esse influxo internacional.
O lado ruim é que qualquer notícia ou frase infeliz de um governante ou análise equivocada de um jornalista estrangeiro pode gerar certo pânico e uma movimentação financeira no sentido inverso.
É como se o leitor colocasse sua mão numa toca à procura de ouro num país desconhecido. Qualquer raspão na pele, sua mão sai da toca a 100 quilômetros por hora.
O problema é o curto prazo.
Ter de aguentar a insegurança inicial desses investidores estrangeiros novatos, que vivem com o dedo no gatilho.
Infelizmente, a maioria de nossos “técnicos” e intelectuais é contra movimentações financeiras; eles querem criar uma sociedade estável a todo custo, com juros altos, com controle de câmbio, CPMF internacional, quarentenas financeiras do influxo de dinheiro e intervenções governamentais, sempre ditados por eles.
Esquecem que sempre existirão pessoas que se assustam com o novo, por isso intervenções só pioram a situação.
Volatilidade faz parte da vida, a solução correta é aprender a conviver com ela, e não impedi-la.
O mundo não é regido por leis econômicas, mas por leis biológicas, típicas de grandes populações de seres vivos.
Hoje, até o noticiário econômico demonstra que percebeu isso quando usa expressões como contágio, ataques especulativos, mecanismos de defesa, vocabulário que vem da biologia, e não da economia.