Ou seja, o dinheiro vai para quem precisa, enquanto nas ONGs que “ensinam a pescar” 85% das doações terminam no bolso dos professores, não no bolso dos alunos carentes.
Por que professores não podem ser voluntários sem receber nada, como os outros?
Alguns, felizmente poucos, cobram fortunas dessas entidades para dar aulas de gestão do terceiro setor e nem ficam vermelhos quando em sala de aula enaltecem o trabalho voluntário.
Hoje as empresas socialmente responsáveis estão usando critérios capitalistas para escolher projetos sociais, querem “investir”, querem “retorno”, querem “alavancar”.
Por isso, adoram projetos que ensinam a pescar, porque o “retorno sobre o investimento” é elevado.
Com esses critérios tipicamente neoliberais, nenhuma empresa investe mais no velho, no tetraplégico, no cego, porque “não compensa”.
Empresário só “investe” em crianças, danem-se os doentes terminais.
É o neoliberalismo social sobrepujando o humanismo cristão.
Não sou contra ensinar a pescar, quero deixar isso bem claro.
Fui professor por trinta anos, precisamos de ambas as posturas sem dúvida alguma.
Só que a maioria das entidades que fazem “mero assistencialismo” também ensina a pescar como parte da recuperação, mas isso os intelectuais nunca divulgam.
O que me preocupa é a enorme ênfase atual na primeira atitude em detrimento da segunda.
Precisamos reverter esse preconceito, precisamos dar valor àquelas entidades que prestam assistência a órfãos, paraplégicos, portadores de hanseníase, síndrome de Down, cegos, doentes mentais, velhos, vítimas de estupro e abuso sexual.
Lamento dizer que boa parte de nossos problemas sociais não é resolvida em sala de aula, por isso temos de manter o equilíbrio.
Se sua empresa é uma dessas que fazem questão de não dar o peixe e somente ensinam a pescar, repense sua posição.
Muita gente necessitada vai preferir o apoio e a mão amiga de sua equipe a umas brilhantes aulas.