O Fim de Nossas Empresas de Classe Mundial

Hoje é mais um dia de luto para a Ciência e Prática da Administração no Brasil. 

O Presidente do BNDES anuncia abandonar a política administrativa que implantamos no Governo Lula de criação de empresas “Classe Mundial”, empresas com qualidade e escala para poder competir internacionalmente e se proteger localmente.

O número de empresas que o Brasil tem competitividade para projetar empresas eficientes internacionalmente é limitado a commodities e algumas pseudocommodities. Não enxergo outros setores, e agora vamos concentrar no fomento de setores intensivos em inovação tecnológica“, diz o Presidente do BNDEs.

Qualquer estudante de Administração sabe o erro desta afirmação.

Todo produto, mesmos os intensivos em inovação tecnológica, vira commodity mais dia menos dia. Pergunte a Apple o que está acontecendo com o Iphone. 

O fato que ele Não enxerga outro setor, é muito grave para esta nação. Leia Michael Porter, “As Vantagens Competitivas das Nações”, onde eficiência é criada, desenvolvida, e não depende de “vantagens naturais”.

O Presidente do BNDES está ainda lendo David Ricardo, onde as vantagens eram naturais, dependendo do solo e clima. 

Quinze anos atrás, Paulo Secches, Prof. William White, Marcos Gouveia e eu, corremos o Brasil divulgando nossa visão que o futuro seria produzir produtos de baixa renda, produtos populares, produtos para a classe D e E, cada um de nós tínhamos a nossa terminologia. Visão que se mostrou correta. 

Propúnhamos lançar produtos com baixa tecnologia, produtos cujas patentes já caducaram, produtos que os americanos consumiam 50 anos atrás, quando a renda deles era semelhante a nossa. 

Luciano Coutinho foi nosso grande opositor na época defendendo o contrário, produzir produtos com elevado valor adicionado, com elevado conteúdo tecnológico para vender lá fora, e capturar um bom lucro e em dólares.

Criticava a nossa proposta, porque significava baixas margens de lucro unitário, escala de produção e venda em reais e não dólares. Leia o meu artigo de 2003, abaixo, que agora lendo se torna profético.

Se você é Administrador e é contra mais este retrocesso administrativo deste país, envie ainda hoje seu email protestando para o Jornal que escreveu a matéria, mostrando o “outro lado da questão”, e o retrocesso que isto significa para este país.

Achar que nossas universidades irão criar um Steve Jobs, Sergey Brin, Larry Page, Bill Gates, produtos com elevado conteúdo de tecnologia é algo para 2050, não 2014.

Stephen Kanitz

Empresas de Classe Mundial

Fiz uma palestra na FIESP em 1991, no início do movimento da globalização, onde mostrei ao Conselho da FIESP, que a 500a. maior empresa nacional, num ranking global, caía para a 20.000a. posição.

Ou seja, seria uma empresa insignificante.

De importante no Brasil, a 500 ésima brasileira viraria uma mosca no contexto da globalização.

A maioria dos presentes, da Cofap, da Metal Leve, da Prosdócimo, não se tornaram empresas de classe mundial apesar do alerta.

E justamente por isto, viraram subsidiárias de empresas estrangeiras em vez de empresas de classe internacional.

Nossos governos por razões eleitoreiras, de 1991 até 2004, davam mais importância à pequena e média empresa.

Pequenas e médias empresas, num contexto mundial, são formiguinhas facilmente trucidadas pelos elefantes que os demais países incentivaram.

Eu era ingênuo naquela época.

Achava, como todo intelectual, que mostrar um problema que iria ocorrer era o passo mais importante a se fazer.

Especialmente, como no meu caso, estava alertando justamente as pessoas certas, o Conselho da Fiesp, e não através de um “paper” nos Cadernos Brasileiros de Economia, que eles certamente não leem.

Perdemos assim toda a nossa indústria de autopeças e eletroeletrônica, por falta de visão governamental do Governo FHC de que nem imaginava que empresas brasileiras precisavam ser competitivas a nível mundial.

A tônica de 30 anos de política econômica era justamente impedir inclusive que estas empresas virassem oligopolistas.

Há um forte sentimento anti grande empresa, que perdura até hoje.

A Telebrás, por exemplo, foi pulverizada pelos acadêmicos do Governo FHC, em nada menos que dezesseis empresas, justamente para impedir o surgimento do “Big Business”.

9 Comments on O Fim de Nossas Empresas de Classe Mundial

  1. Olá Sr. Kanitz, bom dia.

    Acredito que seu texto deveria vir ilustrado com métricas e números tanto do lado bom (quanto defende seu artigo) quanto do lado ruim (dinheiro nosso que o BNDES jogou fora e somente os donos ficaram milhonários ou foi desperdício). Ao ler seu artigo me parece que o senhor duvida que seus leitores são pessoas inteligentes. Caso não tenham números dos dois lados (de maneira isenta), corre-se o rísco de desinformar, a não ser que seja essa a intenção, o que não acredito.

    grata,

    • Entendi o seu ponto Roseane.

      Mas percebe que estou defendendo empresas de Classe Mundial Brasileiras, e não que o BNDES decida quem ele acha que estas empresas deveriam ser, e jogar fora nosso dinheiro, como voce argumenta.

      Mas se tem agora mais um dado. A pessoa que emprestou e escolheu, não acreditava no que fazia, algo ainda mais grave.

      • Professor, eu estou com a Roseane, basta olhar os números por exemplo do JBS para ver que nos ultimos 5 anos enquanto a empresa se consolidava o lucro liquido vinha e vem caindo ano a ano. Admiro o Sr. e sigo suas publicações mas, esta esta devendo maiores explicações.

  2. Prof. Kanitz
    Parabéns pela matéria, principalmente pela valorização do que o LULA fez BEM.
    É muito chato as matérias que classificam todo o trabalho de alguém como bom ou ruim, a favor ou contra,
    Em desrespeito a uma avaliação criteriosa e de bom senso.
    Obrigado por continuar nos informando com seus comentários, obrigado.

  3. Kanitz você falou que o governo FHC acabou com o setor de autopeças, eletroeletrônico e mecânica, no entanto a indústria de transformação perdeu participação na economia brasileira tanto no período FHC quanto nos últimos 10 anos com Lula e Dilma, atingindo apenas 13,3 do PIB em 2012. É um contra senso apontar o governo Lula como um benfeitor da indústria, quando ocorreu justamente o contrário. Quanto a criação de empresas mundiais, acho que é benéfico, porém porque o BNDES precisa financiar essas empresas? O que estamos vendo é dinheiro do governo sendo distribuído para os amigos do rei, sem meritocracia, por isso tantas empresas escolhidas são mal administradas e estão indo mal das pernas. Porque não construir empresas campeãs através de um sistema tributário racional , de uma administração governamental eficiente que tire nossa infra-estrutura do buraco, de incentivo a modernização do mercado acionário?

  4. Mesmo sendo um país menor, o Brasil deveria olhar com atenção o que está acontecendo no Peru. O país cresceu 7% ao ano nos últimos 10 anos com baixa inflação, vem diminuindo a pobreza drasticamente e avançando com uma economia de mercado sólida aliada a um câmbio favorável mantido pelo governo.

  5. Kanitz acho a sua ideia de usar produtos americanos de baixa tecnologia com patentes vencidas no Brasil muito boa assim como outra ideia sua defendida em outro post, o incentivo ao uso de produtos usados, aliás inspirada nela meu carro comprado novo já está com 104 mil km rodados, bem conservado, gasto menos com manutenção para mantê-lo em pé do que com seguro, IPVA e desvalorização da compra de um novo.
    Por outro lado podemos com idéias brasileiras ou adaptadas a nossa realidade melhorar o Brasil, veja o avanço da correção do solo do cerrado ou do plantio direto na nossa agricultura tropical. Não precisamos necessariamente ficar no dilema alta tecnologia produzida no Brasil x importação de tecnologia barata. Podemos produzir tecnologia brasileira de baixo custo, mas com alta funcionalidade. Um dos grandes desafios é tornar o semi-árido brasileiro (região onde moro) em um grande produtor de alimentos. Na região a produção de caprinos é muito mais eficiente e barata do que que a produção de bovinos, porém os produtores não trocam o tipo de criação porque as propriedades são pequenas e não existe um cercamento barato e eficaz para conter os caprinos. Na produção de energia eólica usamos turbinas importadas adaptadas para o vento inconstante do exterior, quando poderíamos desenvolver “pás eólicas caboclas”, adaptadas ao nosso vento mais unidirecional e constante.

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