Antigamente eu identificava o problema, apontava uma solução, detalhava a implantação da solução, e até contratava quem melhor servia para o caso.
Quando tinha 38 anos, descobri que o problema da Dívida Externa Brasileira era o Nominalismo Econômico, que fazia com que pagássemos a dívida externa antecipadamente, e não na época certa.
Fui trabalhar no Governo Sarney, onde contatei meus colegas de Harvard, muitos em Fundos de Pensão, e criamos o que é hoje o TIPS americano.
Procurei a Standard & Poors para iniciar um rating para o Brasil, contratei a Towers Perrin para identificar os 14.000 fundos de pensão que adorariam ter dívidas certas, mereci até um editorial da Revista Euromoney e uma matéria no Wall Street Journal.
Com o editorial da Euromoney me apoiando, abri uma champagne com meus amigos: “Consegui”.
Que nada!
Descobri que a maioria dos envolvidos do lado de cá, ainda nem sabia do problema.
Achavam que o problema eram os bancos, a ganância, os juros e a corrupção.
Eu havia escrito 200 artigos em jornais brasileiros, mas a maioria dos que os leram, pelo jeito, haviam achado algum ponto na minha solução que discordavam, um erro de português, ou uma projeção de câmbio diferente daquela que eles possuíam.
Tudo no fundo era detalhe, até a minha solução.
A maioria dos jornalistas a quem dei entrevistas me acharam provavelmente arrogante, um trator, um sonhador maluco, porque estava apresentando uma solução completa, e eles não formados em nada além de jornalismo, ficavam na etapa número 1 e eu estava galopando para a etapa número 10.
Um erro monumental.
Quando voltei do fundo de Pensão da IBM, com 1 bilhão de contrato novo na mão, ouvi do Presidente do BC, Fernão Bracher:
“Agora entendi, você só vai pagar o juro real a cada 6 meses, e a correção do principal só será paga no vencimento da dívida daqui 5 anos!”
Até aquele momento ele achava que pagaríamos o juro real mais a inflação a cada 6 meses, que é justamente o erro nominalista que acarretou nossa crise da dívida.
Perdi dois anos de conversas com alguém na minha frente que não estava entendendo nada, e não queria se incomodar.
O erro foi meu, não do Bracher e todos os responsáveis pelas finanças deste país. Não expliquei corretamente o problema, deveria ter ficado somente nisto, mas esta não é a nossa cultura.
Se esses artigos já me dão vontade de me enforcar, imagino o que o Sr. passou…
Sabe que estou vivendo isto no meu grupo de empesas. Identifiquei o erro numa das empresas que está afetando todas as outras. A minha solução dada é como uma heresia para os sócios… mas vai acabar sendo a solução. Espero que haja tempo para salvar todo o resto, pois a situação tem ficado muito preta.
Vou tentar a estratégia proposta… parar de bater na solução e insistir no problema… quem sabe não dá resultado!
Abraços,
Paulo Valle
É a mais pura verdade! Jamais somos reconhecidos pelos méritos de fazer as perguntas certas, mas sim pelas respostas coerentes com a situação, desde que não estejamos equivocados nos questionamentos corretos.
Infelizmente, o anormal e o incorreto está sendo aceito como uma verdade ou uma normalidade. Coisas estúpidas na administração pública ou privada, a falta de ética e a corrupção passaram a ser consideradas “qualidades” em um país supostamente sobrevivente e “esperto”!!
Será que estamos remando contra a maré o tempo todo???????
Kanitz …. nao desista. o povo brasileiro, por essencia, e´maladrinho. prefere novelas à reuniao de condominio ou de comunidade de base.
reclama como nenhum outro povo do sistema politico mas vai ao carnaval no dia das eleiçoes apostando em quem esta em primeiro lugar nas pesquisas mesmo desconhecendo o programa do tal politico.
hoje temos quinhentos anos de existencia e outros quinhentos passarao (salvo se Nostradamus nao deixar)ate que acordemos desse viez cultural do “eu primeiro”.
Adorei o artigo Stephen. Tenho errado muito em focar mais na solução, ao tratar de um problema na empresa.
Como diz o velho ditado: “fazer o certo é mais difícil do que o errado”.
Quando identificamos problemas ou até mesmo apresentamos as soluções, onde dedicamos um tempo valioso pra isso, infelizmente a imagem que outros tem de nós é a arrogância. E mesmo sabendo que se não agirmos pode ser o fim do negócio.
Parabéns pelo blog.
Marcelo Lima
Professor Kanitz, meu pai fazia parte da Diretoria de uma Cooperativa de transporte que atuava no ramo de transportes de veículos (cegonheiro), a Cooperativa tinha cerca de 100 cooperados, tinha uma fatia do mercado bastante invejada pelas empresas concorrentes e um grande potencial a ser explorado. Porém muitos problemas surgiram devido a falta de conhecimento dos Cooperados sobre como a Cooperativa deveria atuar no mercado, foram cerca de 5 anos realizando reuniões intermináveis, assembleias e mais assembleias tentando mostrar aos cooperados os problemas encontrados e quais seriam as soluções cabíveis na época, sabe qual foi a solução encontrada… Vender a cooperativa, infelizmente quem apontavam os problemas e tentava solucioná-los era considerados “chatos”. Hoje a empresa que assumiu o grupo implantou as soluções que haviam sidos propostas anteriormente e esta faturando cerca de 7 vezes mais.
Caro Prof. Kanitz,
Muito embora em “Países profissionais” o apontamento de um problema seja mais bem visto, mesmo lá isso é considerado um “caso” por muitos, ou o John Kenneth Galbraith (é, é um economista, eu sei…) não teria publicado a seguinte frase em seu livro “A Era da Inceteza” (considerando a experiência dele em países desse tipo): Em qualquer grande organização, é muito mais seguro estar errado com a maioria do que estar certo sozinho.”.
No mais, excelente artigo (como sempre). Obrigado por compartilhar as suas experiências!
André
Fora a questão da vaidade das pessoas. Aceitar a solução vinda de outra pessoa mexe com o orgulho de muita gente. Certamente vc deve ser bem odiado por alguns…
Excelente artigo, como é usual nos que saem da pena de Kanitz. Hoje aqui, lemos sobre uma tal “Síndrome do NIH” (Not Invented Here) a pleno pano.
Como sempre Kanitz, suas colocações são muito bem embasadas. Realmente o Brasil só valoriza os que apresentam a solução, análise e levantamento de problema não valem nada.
Parabéns! Muito bem colocado. gostei mais ainda da dica de primeiro apresentar só o problema e depois “vender” a solução. Esta lição vou começar a praticar já!!! hehehe.
Obrigado.
É realmente incrível como as pessoas desprezam a nobre arte de questionar e exatamente por isso passam anos correndo atrás daquilo que não entendem e nem sabem para que servem. Esquecem que mais importante que produzir respostas certas, é elaborar as perguntas corretas.
Sinto a mesma coisa, em menor escala e em outra área, mas sou sempre incompreendida….até que algum dia alguém diz “Ah! Era isso que ela estava falando”