[pullquote]Nossos policiais reclamam por aumentos com absoluta justiça. Muitos têm de viver em favelas, temendo que alguém descubra sua profissão.[/pullquote]
Até neoliberais defendem um Estado Forte na área de Segurança, mas isto não tem ocorrido.
Nossa imprensa demoniza policiais sem cessar desde 1964, tratando-os como bandidos.
Mostre-me uma ONG que dá bolsas de estudos para filhos de policiais mortos.
Recebi dezenas de emails de policiais agradecendo o meu apoio e solidariedade, dizendo que eu era o único. Tristeza. As consequências estão aí.
Se você é paulista, vale a pena reler este artigo trancado no seu quarto, com medo.
A chance de você ou alguém da sua família ser assaltado, sua filha estuprada ou um parente sofrer um sequestro relâmpago no Brasil é de aproximadamente 97% no decorrer da vida.
Poucas famílias irão escapar.
Um amigo meu se orgulha de ter se safado oito vezes de levar um tiro na testa.
Todas as ideologias políticas, do socialismo ao neoliberalismo, acreditam que cabe ao Estado a proteção do indivíduo.
O socialismo e o comunismo sempre investiram pesado em policiamento e segurança.
A China comunista executa criminosos diariamente e entrega o cartucho à família.
Liberais, que tendem a confiar no indivíduo e não no Estado, são contra fazer justiça e segurança pelas próprias mãos.
Neoliberais, que preferem um Estado fraco, pregam um Estado forte na área de segurança pública.
Nossos governos têm sido uma exceção.
Fazem praticamente “tudo pelo social”, mas negligenciam a segurança, função primordial do Estado em todas as ideologias.
Acrescentaram aposentadorias grátis, cultura grátis, terras grátis, creches grátis, mestrados grátis, investimentos em energia grátis, a ponto de levar as finanças do Estado à ruína.
De nada adianta ter saúde ou um mestrado e levar um tiro num assalto.
Quatrocentos anos atrás, Hobbes já escrevia:
“Quando não existe poder capaz de manter os homens em respeito, temos a condição que se denomina guerra civil; uma guerra de todos os homens contra todos.”
Nossos policiais reclamam por aumentos salariais com absoluta justiça.
Alguns têm de viver em favelas, onde temem que alguém descubra sua profissão.
O policial de Nova York ganha cinco vezes mais que um policial brasileiro, que por sua vez tem de enfrentar uma criminalidade cinco vezes maior.
Quando um policial brasileiro prende bandidos arriscando a vida, sabe que eles logo estarão livres novamente por falta de prisões.
Um policial, normalmente pouco treinado pelo Estado, se no cumprimento do dever errar um tiro, será trucidado e execrado pela opinião pública.
Quem se candidata a um emprego desses que exige a rapidez de um executivo, a coragem de um herói, o discernimento de um juiz, o tato de um psicólogo e com um salário vil?
Nossos policiais deveriam ser pagos num nível salarial que os fizesse temer a perda do emprego, em vez de sentir vergonha dele.
Como, apesar das estatísticas, ninguém acredita que um dia será uma vítima, e vítimas fatais não votam, nunca elegemos prefeitos e governadores que priorizam suas secretarias de Segurança nem seus policiais.
Preferimos eleger quem nos promete um benefício imediato a aqueles que prometem eliminar um risco incerto.
Apesar de os contribuintes pagarem 35% do PIB em impostos, hoje temos um Estado fraco na maioria das áreas de atuação: saúde pública com falta de recursos, educação com problemas, um rombo na previdência e um policiamento sem os equipamentos necessários.
Vamos começar de novo, criando um Estado que cumpra no mínimo a primeira e única função sobre a qual todas as ideologias concordam.
Vamos reduzir um pouco as inúmeras outras funções sociais, em digamos 5% cada uma, para poder aumentar em 100% as verbas para policiamento, Justiça e segurança.
Sou a favor de o Estado promover políticas de inclusão e agregação social com nosso dinheiro, contanto que o faça com competência.
Se o Estado conseguir devolver ao povo a segurança de ser brasileiro, conquistará credibilidade para assumir outras funções sociais, todas em que souber demonstrar competência.
Em resumo, nosso Estado social-democrata está fazendo coisas demais e mal feitas.
Vamos fazer um pouco menos, e bem feito.
É necessário discutirmos mais o que talvez seja o pior problema do Brasil (e com maior espaço para melhora, embora não com as medidas e raciocínio simplistas habituais).