VEJA — O senhor não acha que está sendo otimista demais?
KANITZ – Em 1984, o Delfim Netto e o Emane Galvêas anunciavam que a recessão estava no fim.
Bastava olhar o cenário brasileiro e o internacional com mais atenção para perceber como a crise estava mal começando.
Naquela época, acusavam-me de ser pessimista.
Hoje, dizem que sou otimista demais. Ocorre que eu aprendi a fugir dos chavões e das análises simplórias.
Acadêmicos tendem a ver tudo branco ou preto. Eu, que sou contabilista, me habituei a ver o cinza.
VEJA — O que há de interessante na paisagem cinzenta?
KANITZ — Antigamente, previa-se o rumo da economia observando a taxa de câmbio, a taxa de juro e as contas do governo. Hoje, é tudo mais complexo.
Quem não decifrar as entranhas das 1 000 maiores empresas não conseguirá entender a economia brasileira.
Conhecer o lado gerencial se tornou muito mais importante que observar os grandes indicadores econômicos.
VEJA — E o que há de novo nesse lado gerencial?
KANITZ — Ele mostra que saímos do túnel.
Falta agora trocar a marcha e acelerar.
As empresas brasileiras são as menos endividadas do mundo.
Pagaram as suas dívidas e possuem uma forte reserva de capital para voltar a crescer.
Trabalham com 25% de capacidade ociosa, o que nos permite aumentar a produção sem enfrentar aumentos de preços por escassez de produtos.
Poucos países no mundo, com exceção da China e da Índia, têm condições tão favoráveis de crescimento com o Brasil.
O problema é que não estamos nos preparando psicologicamente para esse momento.
Perdemos tempo demais olhando o próprio umbigo da crise.
Temos milhares de especialistas em inflação e meia dúzia de gatos-pingados especialistas em crescimento.
leiam o blog Axiomas da Capitalização