Como Prever Falências

Pior, três anos depois fiz uns seminários para a Revista Exame sobre o assunto em cidades do interior, e vários gerentes de bancos me disseram que o modelo funcionava a mil maravilhas. O que não deveria ter acontecido.

É que todos os gerentes usavam o mesmo modelo, e devo inadvertidamente cortado o crédito de muita empresa sadia, que ao falir confirmaram a qualidade do meu modelo.

O meu termômetro era uma fórmula pronta, para ser usado sem pensar.

Usamos fórmulas prontas sejam de autores nacionais ou estrangeiros, sem o mínimo questionamento ou pelo menos um esforço para adaptar os modelos genéricos às situações específicas de cada empresa.

Mais do que apresentar uma fórmula de pronto uso, o artigo tinha por objetivo:

a. Que era possível prever uma falência com certa antecedência, a partir dos demonstrativos publicados pelas próprias empresas. Ideia inovadora na época.

b. Que os demonstrativos financeiros publicados pelas empresas brasileiras são suficientemente fidedignos quanto à realidade financeira, algo em que não se costuma acreditar neste país, especialmente para empresas médias e pequenas onde tais demonstrativos eram considerados totalmente falsos ou, pelo menos, inúteis.

O modelo e os outros que o seguiram resolviam, para os analistas financeiros, dois problemas importantes:

a. Como balancear informações conflitantes. (o que fazer com uma empresa que  apresenta um aumento na liquidez e uma  elevação no  endividamento ao mesmo tempo? 0 resultado destes efeitos é uma melhora na situação financeira ou uma deterioração?);

b. Como comparar empresas entre si.

6) Embora usada por gerentes de bancos, na época suas diretorias não se interessaram por Análise de Crédito. Tanto que terceirizavam este serviço ao Serasa, mostrando que não fazia parte do Core Business.

Core Business era ganhar com o float da inflação, e o Brasil nunca adquiriu competência em empréstimos bancários e financiamentos a empresas.

Somos campeões em taxas de serviço, cartões de crédito, cheques especiais e descontos de duplicatas, que não é exatamente financiar a produção.

7) Felizmente, o outro lado da Falência é a Excelência, e usando o mesmo método criei a edição “Melhores e Maiores”, um sucesso de vendas até hoje.

Introduzi uma ponderação de índices baseado no Termômetro de Kanitz no ano de 1977, a fim de determinar as melhores empresas do país, baseado na soma de seis critérios.

O modelo publicado em EXAME foi elaborado para prever falências no período de 6 a 12 meses, o período que demorava para sair a publicação.

O maior medo dos editores era premiar uma empresa que pedisse concordata logo em seguida da edição ser colocada nas bancas.

O que ocorreu uma única vez, não devido a empresa em si, mas devido à má situação financeira da holding.

Infelizmente, não sei o motivo, esta metodologia foi abandonada pela Revista Exame e não me surpreenderia em ver uma concordatária na lista das melhores no futuro.

8) Pelo exposto, fica claro que para o Brasil dar Certo é necessário um sistema de Patentes rápido e eficiente, que pelo que já vimos ainda não ocorre no Brasil.

Até lá, cuidado com suas ideias. A maioria vai querer roubar, ao invés de contratá-lo e ter a melhor ideia possível.

4 Comments on Como Prever Falências

  1. Caro Prof. Kanitz, desculpe-me discordar do seu ponto de vista, mas, para mim, o artigo traduz a sua visão “mercantilista”, para não dizer mercenária!!! Entendo que o conhecimento científico deve ser difundido gratuitamente. Afinal de contas, como foi dito, o senhor “copiou” o conceito americano de credit-scoring, que foi difundido gratuitamente e abertamente na comunidade científica internacional, “introduzindo-o no Brasil. Mas o fez com propósitos de obter lucro pessoal, difundindo “gratuitamente” o dito “termômetro” com 5 variáveis e escondendo do público o modelo com 26 variáveis, para que o mesmo fosse vendido. Lastimável!!!

    • Fábio:
      Todo o sistema educacional e produtivo de nosso sociedade é copiar e repetir o conhecimento acumulado.
      Assim, levando ao pé da letra a sua opinião todos os profissionais intelectuais deveriam fazer o seu trabalho gratuitamente: professores, advogados, médicos, administradores, contadores, etc.
      Não sei qual sua profissão, mas será que você topa trabalhar de graça?
      O Professor Kanitz criou e patenteou um método de avaliação de empresas que NÃO EXISTIA o Brasil e ele na década de 70 ofereceu uma ‘degustação’ ao mercado para conhecer a sua solução.
      Hoje na internet todas as empresas oferecem uma solução básica grátis e o interessado caso queira uma solução completa deverá pagar alguma coisa.
      Agora, como conheço o perfeccionismo do Professor, certamente esta solução básica ficou tão bem feito que ninguém mais se interessou por outra solução. Principalmente num sistema educacional que não usa 50 variáveis como a Harvard. No Brasil cinco variáveis já é muito.

  2. Sobre questionar a metodologia de cálculo, o que o senhor considera um vício, e eu também, acredito ser pela qualidade do ensino da matemática nas faculdades. Não dando um ensino razoável de cálculo diferencial e integral, analise matemática, entre outras. Se o estudante possuir essa bagagem intelectual não só poderá entender melhor o modelo, e melhor aplica-lo, mas melhora-lo e/ou criar novos.

Leave a Reply

UA-1184690-14