O artigo “Como Prever Falências”, publicado há 38 anos na Revista EXAME, foi meu primeiro trabalho acadêmico e talvez o mais conhecido. Introduzia no Brasil o conceito de credit-scoring, e ficou conhecido como o Termômetro de Kanitz.
Neste artigo vou descrever como ideias são lançadas e absorvidas no Brasil, um artigo mais de Sociologia do que de Finanças.
1) Hoje, 38 anos depois, são poucas as coleções de bibliotecas, especialmente de Universidades, em que este número não tenha sido roubado.
A revista de Dezembro de 1974, da Exame, geralmente está faltando. Prenúncio do que direi mais embaixo.
2) No artigo mostrei um dos meus modelos, não o melhor, e coloquei com todas as letras que possuía outros modelos, com 25 variáveis que previam muito melhor.
Esperava receber uma fila de interessados em saber como adquirir estes modelos melhores.
Não aconteceu.
Todos preferiram usar o modelo mais simples de cinco variáveis, de longe o pior, mas grátis.
Pagar por consultoria, ideias, novos métodos, jamais. O grátis é sempre melhor.
Por mais de 30 anos, a Exame recebia cartas e emails pedindo uma cópia do artigo, nenhuma carta era endereçada a mim.
É o país do “tudo se copia” e do “tudo grátis”, mesmo sendo pior.
Por isto, nosso ensino é da pior qualidade, nossa saúde idem, mas pelo menos é de graça.
3) Um banco do Rio Grande do Sul, por exemplo, aplicava-o sobre os seus próprios resultados quando o modelo era claramente destinado à indústria e ao comércio.
Também não lemos instruções.
Aplicamos teorias administrativas e econômicas desenvolvidas por ingleses e americanos, sem ler as instruções.
Sem perceber que aquelas teorias foram criadas para a cultura inglesa e americana, não para a brasileira.
Mas mesmo assim copiamos, sem mandar cartas ao autor.
4) O artigo apresentava cinco índices de previsão de insolvência que, ponderados através de pesos cientificamente determinados, davam uma nota para a empresa analisada, nota esta que determinava a sua saúde financeira.
Notas baixas indicavam péssima saúde financeira, e consequentemente elevada probabilidade de falência. Notas elevadas indicavam saúde excelente, e consequentemente empresas de baixo risco de crédito. Hoje, os pesos e os índices do artigo de 1974 são obsoletos e incorretos, já que a situação econômica do país mudou bastante neste período. Mas pelos 20 anos seguintes, foi usado sem pestanejar. Secretarias da Fazenda de vários Estados usavam para selecionar empreiteiras, apesar do modelo não contemplar a área de serviços.
O único dinheiro que ganhei com este modelo foi em pareceres jurídicos a favor de empreiteiras injustiçadas, onde afirmava que o modelo fora usado sem a minha permissão. E que hoje, não previa coisa alguma.
5) Para o meu espanto, acabou sendo usado por uma série bancos e financeiras, sem a mínima preocupação de se aprofundarem na metodologia que o gerou.
Este comportamento é bem elucidativo quanto ao comportamento gerencial brasileiro, ávido na utilização de fórmulas prontas.
Caro Prof. Kanitz, desculpe-me discordar do seu ponto de vista, mas, para mim, o artigo traduz a sua visão “mercantilista”, para não dizer mercenária!!! Entendo que o conhecimento científico deve ser difundido gratuitamente. Afinal de contas, como foi dito, o senhor “copiou” o conceito americano de credit-scoring, que foi difundido gratuitamente e abertamente na comunidade científica internacional, “introduzindo-o no Brasil. Mas o fez com propósitos de obter lucro pessoal, difundindo “gratuitamente” o dito “termômetro” com 5 variáveis e escondendo do público o modelo com 26 variáveis, para que o mesmo fosse vendido. Lastimável!!!
Fábio:
Todo o sistema educacional e produtivo de nosso sociedade é copiar e repetir o conhecimento acumulado.
Assim, levando ao pé da letra a sua opinião todos os profissionais intelectuais deveriam fazer o seu trabalho gratuitamente: professores, advogados, médicos, administradores, contadores, etc.
Não sei qual sua profissão, mas será que você topa trabalhar de graça?
O Professor Kanitz criou e patenteou um método de avaliação de empresas que NÃO EXISTIA o Brasil e ele na década de 70 ofereceu uma ‘degustação’ ao mercado para conhecer a sua solução.
Hoje na internet todas as empresas oferecem uma solução básica grátis e o interessado caso queira uma solução completa deverá pagar alguma coisa.
Agora, como conheço o perfeccionismo do Professor, certamente esta solução básica ficou tão bem feito que ninguém mais se interessou por outra solução. Principalmente num sistema educacional que não usa 50 variáveis como a Harvard. No Brasil cinco variáveis já é muito.
Caro Fábio quem é vc?
Sobre questionar a metodologia de cálculo, o que o senhor considera um vício, e eu também, acredito ser pela qualidade do ensino da matemática nas faculdades. Não dando um ensino razoável de cálculo diferencial e integral, analise matemática, entre outras. Se o estudante possuir essa bagagem intelectual não só poderá entender melhor o modelo, e melhor aplica-lo, mas melhora-lo e/ou criar novos.