[pullquote]Nunca desenvolveram o conceito de Taxa de Câmbio de uma mesma moeda entre dois períodos de tempo.[/pullquote]
Historiadores atribuem o atraso inicial da China ao fato de só terem inventado o conceito do zero em 718 DC, um pequeno detalhe que atrasou o seu desenvolvimento.
Os problemas atuais dos Estados Unidos são devido ao fato de nunca terem desenvolvido o conceito de Taxas de Câmbio Intertemporais.
Para um americano, Taxa de Câmbio sempre significa a taxa entre duas moedas de dois países num mesmo momento.
Como a Taxa de Câmbio entre o dólar e o real.
Nunca desenvolveram o conceito de Taxa de Câmbio de uma mesma moeda entre dois períodos de tempo.
Como a Taxa de Câmbio do dólar entre dezembro de 1978 e o dólar de dezembro de 2010, que no fundo são duas moedas diferentes com valores econômicos diferentes.
Esta falha de conceito explica inúmeros problemas que hoje afetam a economia americana.
A maioria dos americanos (e europeus diga-se de passagem) acha que suas moedas são constantes no tempo.
Por isto, emitem títulos de 30 anos, e o povo ingenuamente compra achando que vai receber em 30 anos a mesma coisa.
Empresas, como a Standard’s & Poor’s, até recentemente davam a nota AAA para um país que devolveria ao investidor não 100% do valor investido no final do período, mas somente entre 50% a 70% do valor investido.
Um calote de 50%-30%, se você usar uma Taxa de Câmbio Intertemporal. Ou seja, de AAA não tinha absolutamente nada. Seu filho daqui 30 anos vai receber um calote de 30 a 50% dependendo da inflação.
Americanos colocam num mesmo gráfico dólares de 1978, 1979 e 1980 como se todos tivessem uma Taxa de Câmbio de 1:1 entre si.
Como se todos estes dólares tivessem o mesmo valor unitário.
Vejamos este gráfico que supostamente mostra a deterioração da relação empréstimos bancários por patrimônio líquido dos bancos americanos.
Pelo gráfico, os autores Saunders e Wilson chegam à conclusão que a “alavancagem dos bancos americanos subiu assustadoramente ao longo dos tempos”.
Só que este gráfico é muito parecido ao gráfico de um ativo que vai sendo corroído lentamente pela inflação de 2%, que no fundo foi o caso.
Não passa pela cabeça, que o dólar do patrimônio dos bancos de 1910 não é o mesmo do patrimônio de 2010, e que existe de fato uma Taxa de Câmbio entre estas duas moedas, o dólar de 1910 e o dólar de 2010.
Na realidade, nem são a mesma moeda do ponto de vista filosófico. São DUAS moedas diferentes, com valores diferentes.
Por isto, este gráfico precisa de uma Taxa de Câmbio entre os dólares anuais entre si para poder ser comparados, algo que a ciência econômica nunca desenvolveu.
Se tivessem desenvolvido este pequeno detalhe, saberiam que os bancos não estavam se alavancando ao longo do tempo e sim o Patrimônio Contábil dos Bancos estava sendo corroído pela inflação, justamente por não existir o conceito de Taxa de Câmbio Intertemporal.
Eduardo Gianetti no seu livro “O Valor do Amanhã”, faz um tratado sobre a intertemporariedade das decisões, atribuindo esta função à Taxa de Juros.
Na realidade, existem duas funções que precisam ser consideradas, a Taxa de Câmbio Intertemporal entre o real de hoje e o seu valor amanhã, e depois usar a Taxa de Juros, mas neste caso o Juro Real.
A Taxa de Juros Nominal, tipo 6% por ano, não é a Taxa de Câmbio entre moedas em tempos diversos.
O Plano Real eliminou a chamada correção monetária, que era uma forma (errada) de definir uma taxa de “câmbio” intertemporal. Demos um passo para trás.
Pior, passamos a acreditar e a espalhar que a “correção monetária” era causadora da inflação, e que perpetuava a inflação, um erro lamentável que não irei discutir aqui.
O que causa inflação é não ter correção monetária, ao dar uma renda ao investidor de 10% de juros fictícios e não 3% de juro real. Se gastar os 7% de diferença, gera inflação.
Queira ou não, a Taxa de Câmbio entre “duas” moedas existe, mesmo que os americanos não a tenham desenvolvido.
Como o zero sempre existiu, mesmo que não tenha sido usado pelos chineses antes de 718.
Como na hora de calcular Ratings de Países e Empresas, na hora de criar Limites de Basileia sobre patrimônios com Taxas de Câmbio intertemporais diversas, na hora de vender títulos de 30 anos a serem pagos com dólar de 2040, sem saber que existe sim uma Taxa de Câmbio entre estas duas moedas.
Só americano compra títulos de 30 anos, sem saber qual será a Taxa de Câmbio que irá vigorar daqui a 30 anos.
Sem saber qual será a Taxa de Câmbio Intertemporal entre o dólar de 2040, que ele irá receber, e a taxa do dólar de 2010 que ele aplicou.
Por quanto tempo irão ignorar este pequeno detalhe?
Kanitz vc não quiz discutir a inflação e a correção monetária no texto, mas acredito que daria mais clareza a esta explicação econômica. Não se deve esquecer que a inflação não deixa de ser uma medida econômica, pois ela surge mais através da impressão de papel moeda e de reservas fracionadas dos bancos em conluio com o governo, que forçosamente criam inflação e ela naturalmente vai desembocar em distorções nas taxas de câmbio com o passar do tempo. Portanto creio que o intervencionismo causa muito mais estragos que soluções tanto na inflação como nas taxas de câmbio.
Caro Sr. Kanitz,
No texto acima há seguinte frase “Eduardo Gianetti no seu livro “O Valor do Amanhã”, faz um tratado sobre a intertemporariedade das decisões, atribuindo esta função à Taxa de Juros”.
No arquivo que eu recebi via email a frase é mais longa “Eduardo Gianetti no seu livro “O Valor do Amanhã”, faz um tratado sobre a intertemporariedade das decisões, afastando ainda mais os seus alunos da verdade, atribuindo esta função à Taxa de Juros”.
Há uma parte que foi suprimida no post acima “afastando ainda mais os seus alunos da verdade”.
Eu li o livro do Gianetti e gostei muito do livro. Não sou economista e fiquei na dúvida se na sua ótica o Gianetti está errado.
Prezados Srs.
Complementando o assunto discutido pelo Prof. Kanitz, sugiro a leitura do pequeno artigo “La ‘reliquia barbárica’ vs. Las reliquias de la muerte (segura)” de Guillermo Barba, no sítio http://www.plata.com.mx, cujo tema são as diferenças entre uma moeda fiduciária e as moedas com valor intrínseco(ouro e prata) e os caminhos pelos quais cada uma delas conduzem nossa civilização.
Link:
http://www.plata.com.mx/mplata/articulos/articulosFilt.asp?offset=0&fiidarticulo=430
Tá aí um artigo em que concordo 100% com o professor. Enquanto prevalecer esta ideia distorcida da realidade, milhões continuarão a ser saqueados – p. ex. Brasileiros que ainda põem dinheiro na poupança achando que é investimento.
Resta a pergunta: Qual é então o parâmetro ‘zero’??? O ouro, a prata ou o feijão?