[pullquote]Para entender tudo isto, é necessário conhecer a composição dos custos de uma empresa brasileira.[/pullquote]
Infelizmente, não se ensina nas faculdades como as empresas funcionam, e aí o trabalhador brasileiro tem uma falsa noção do que os seus líderes fazem e o que não fazem.
Darei o caso da Volkswagen, cujos dados históricos copiei da internet.
“Foi uma greve por 20% de aumento salarial imediato, mas que encerrou em si uma demanda muito mais ampla: a da recuperação da dignidade dos trabalhadores.
Foi uma greve surgida em um setor bastante específico (as empresas automobilísticas de São Bernardo), mas que imediatamente se irradiou”, Lais Abramo.
Durou meses e ao contrário do que historiadores escrevem, não foram os sindicalistas que negociaram bem.
Para entender tudo isto, é necessário conhecer a composição dos custos de uma empresa brasileira.
Mais ou menos, dependendo do setor, os custos de uma empresa se dividem assim:
40% Impostos Federais, Estaduais e Municipais.
30% Matérias Primas e Peças de 2.000 Fornecedores Externos.
6% Propaganda em Jornais, Revistas e Televisão.
8% Despesas Administrativas, Contábeis, Advocatícias, Pesquisas Técnicas, Treinamento, Auditoria, Análises Econômicas, Pesquisa de Mercado, os chamados de “colarinhos brancos”.
5% Despesas de Dividendos, a remuneração dos acionistas.
2% Despesas Financeiras, Bancárias e Câmbio.
9% Despesas com Trabalhadores de Fábrica.
Os trabalhadores de fábrica apesar de serem 9% das despesas, representam muitas vezes 30% dos colaboradores da empresa, e portanto a maioria como classe.
Muitas vezes são os mais jovens, no início de carreira e iniciam na empresa no escalão mais baixo e com salários de início de carreira.
Apesar de serem 30% dos colaboradores da empresa, muitas vezes representam 70% dos colaboradores da fábrica, e podem impedir a entrada dos contadores, psicólogos, estatísticos, engenheiros, arquitetos, desenhistas, operadores logísticos, etc, que também trabalham na fábrica.
A grande maioria dos colaboradores da Volks não trabalha na Volkswagen Fábrica, mas nos escritórios regionais ou locais independentes como escritórios de advocacia, agências de propaganda, ou então são os vendedores autônomos, as concessionárias, os caminhoneiros, os colaboradores das empresas fornecedoras.
Todos estes trabalham em outros locais e dispersos pelo Brasil afora.
Dificilmente podem fazer “greve” ou se colocar na frente da “entrada” impedindo os demais de trabalhar.
Agora vem o ponto crucial.
Quando estes 9% entram em greve, 91% do restante deixa de receber impostos, comissão de vendas, fornecimentos, honorários advocatícios, anúncios em jornais e TV e ficam preocupados.
Depois de um mês em greve, a Volkswagen deixou de comprar peças, anúncios em jornais, descontar duplicatas no Banco e pagar 40% de impostos.
Depois de dois meses em greve, estes 91% estão em pânico.
Ligam desesperadamente para o Presidente da Volkswagen, que me contou estes detalhes, dizendo:
– “Cedam aos sindicalistas, deem este aumento de 20% que estão exigindo, afinal 20% de 9%, são somente 1,8% a mais nos custos, e nós 91% não seremos mais prejudicados.”
Pres. da Volks -“Não é bem assim.
Nós da Volkswagen não ganhamos 91% das receitas, quem ganha isto são vocês.
Por todo este nosso esforço nós ganhamos somente 5%, e reduzir para 3,2% como os sindicalistas querem é uma redução de -36% na nossa remuneração.”
Para quem ganha 5% de dividendos, aumentar os custos em 1,8% é reduzir a remuneração dos acionistas para 3,2% ou seja uma redução de 36%.
Mas para quem ganha 91%, este aumento de custos significa uma queda de somente 1,97%, e é justamente daí que virá a solução.
Depois de 2 meses, o Presidente da Volks começa a receber telefonemas de fornecedores, TVs, jornais e concessionárias.
-“Deem este bendito a
umento, a gente topa dar 1,5% de desconto nas próximas remessas de matérias primas.”
-“Deem este bendito aumento salarial, a gente topa dar uma hora de anúncios na TV grátis.“
–“Deem este bendito aumento salarial, a gente aumenta o prazo de crédito para vocês nos pagarem.”
Quem mais entrou em pânico na Greve dos Metalúrgicos foi o governo que recebe 40% e a queda de arrecadação começava a agravar o deficit público e gerar mais inflação.
-“Aqui é o Ministro da Fazenda.
Deem este aumento salarial, seus idiotas, depois eu arrumo um empréstimo do BNDES, ou um incentivo qualquer de 1,8% para compensar.”
-“Não podemos Sr. Ministro, seria um péssimo precedente.
Vão estender esta greve para todas as demais empresas deste país.“
O que de fato aconteceu.
-“Não brinquem comigo.
Terminem esta greve amanhã, e depois de amanhã a gente acerta, seus fornecedores acertam, as televisões acertam, não podemos continuar prejudicando 91% da sua empresa, para o benefício de somente 9%.”
Esta é a função do Presidente.
Conciliar os interesses difusos de todos os stakeholders da empresa, e não somente dos trabalhadores de fábrica.
O pior é que resolvido o problema, ter que ouvir via megafone:
-“Companheiros e Companheiras.
Conseguimos dobrar os executivos canalhas da Volkswagen“
UÉ! Esqueceu item Receitas e Lucro/Prejuizo? Para mim as grande frase é: “afinal 20% de 9%, são somente 1,8% a mais nos custos”! Da para tirar de marketing…rs
E é óbvio, companheiros e companheiras tem que comemorar. Porque são 20% a mais em suas receitas.Ainda mais considerando o salario aviltante no Brasil (e por decadas)
Professor, essa foi uma grande aula de como é feito o sindicalismo.
Marcio, o q escrevi para o Marcos é válido para você…
Muito bom professor! Espero que escreva no seu blog sobre essas recentes concessões dos Aeroportos, comentando essa participação dos fundos e mais uma vez do BNDES.
Melhor do que muita aula que recebi na faculdade.
Faltou dizer que neste meio tempo os estoques de produto acabado abarrotados nos páteos foi reduzido e transformado em injeção de caixa muito bem remunerado no mercado financeiro que na época desta história deveria pagar bem mais que 95% do CDI !!!
Faltou explicitar que isso gerou um presidente da república que vimos há pouco tempo ainda usando o boné do MST ! Provavelmente nas invasões de terras deva haver um motivo oculto a ser esclarecido ,caro mestre !!!??
Abraços
Marcos
O que ele explicou é que, ao contrário do que diz o sindicato, não foram os executivos “canalhas” da Wolks que foram dobrados, foram os diversos membros da cadeia produtiva automobilística, incluindo o Governo Federal.
Marcos
Este blog é serio. Querer ganhar discussão com platitudes marxistas que os estoques estavam abarrotados sem nenhuma comprovação, o lugar é outro. Não aqui.
Obrigada Kanitz, por trazer INFORMAÇÃO de verdade. É isso que faz falta. É bom ouvir quem se dá ao trabalho de dividir seu conhecimento que eu sei que dá trabalho para adquirir e manter. Como se poderia Administrar uma greve sem conhecimentos de Administração? Isso foi uma lição de Administração. Envolve de finanças a marketing. Só não viu, quem pensou que era um jogo de futebol… Torcer, não é Administrar, mas tão pouca gente sabe. Muitos ¨vestem a camiseta¨e isso é fácil de fingir¨. Saber, não dá para fingir.
E o que expliquei (e ele sabe, foi apenas um exercício teórico)que a análise de um resultado de exercício deve ser completa, Receita e Lucro/prejuizo.(Se fosse pequeno nem estariam aqui).
E que sindicalistas deveriam mesmo comemorar por seu grande aumento de RECEITAS. Pouco importa se em cima da Volks, do governo ou de toda cadeia produtiva. A Volks (é com “v”)foi tão canalha com esse país que devia MILHÕES a previdência.E ameaçou sair do país quando do apagão de FHC. E eu perguntei a eles se ao voltar a Alemanha pagariam esses milhões e se também pediriam de volta os BILHÕES pagos por Geisel pelas usinas nucleares alemãs pagas e não executadas.Que eram para gerar energia.
Esse comentário foi para Thiago..
No final da história, a Volks saiu vencedora. Ela teve aumento de custos de mão de obra na ordem de 1,8%, porém ganhou em propaganda, juros mais baixos, etc.
Quem perdeu com isso tudo? A sociedade toda: outros anunciantes terão que arcar com essa propaganda gratuita, os contribuintes financiando empresas com juros baixos contraindo dívida pública a preços altos, entre outros envolvidos. E ainda mais: estimulará greves em outros setores prejudicando toda a economia.
Você acha que os “companheiros” ganharam???
Tenha certeza que esses 20% adicionais dos companheiros certamente será prejuízos a pagar desde agora (mais impostos, maior automação da indústria, inflação,…).
Maicon, leia resposta lá em cima ao Thiago.
Óbvio que ganharam. E dado seu desprendimento em relação a salário vamos cortar SEU salário e de SEUS colegas de trabalho em prol da sociedade. :o)Não dá né?
Num país de salários aviltantes como o nosso e de enorme disparidade de Renda, defender patronato é complicado. Isso pela covardia deles em lutar pela diminuição de seus custos via eficiência,impostos e juros. O fazem em cima dos salários. E em sua reticência em melhorar os benefícios do trabalhador (saúde e previdência que se paga pelo que não se tem e duas vezes).E não falo de grandes empresas digo no geral e sobre a maioria)
E o que expliquei (e ele sabe, foi apenas um exercício teórico)que a análise de um resultado de exercício deve ser completa, Receita e Lucro(Se fosse pequeno nem estariam aqui)/prejuizo.
E que sindicalistas deveriam mesmo comemorar por seu grande aumento de RECEITAS. Pouco importa se em cima da Volks, do governo ou de toda cadeia produtiva. A Volks (é com “v”)foi tão canalha com esse país que devia MILHÕES a previdência.E ameaçou sair do país quando do apagão de FHC. E eu perguntei a eles se ao voltar a Alemanha pagariam esses milhões e se também pediriam de volta os BILHÕES pagos por Geisel pelas usinas nucleares alemãs pagas e não executadas.Que eram para gerar energia.