[pullquote]Os verdadeiros donos do Poder é o segundo escalão, e nunca o primeiro escalão como todo mundo pensa. [/pullquote]
O filme Barry Lyndon, maravilhosa produção de Stanley Kubrick, retrata a alta burguesia inglesa do século 19.
Gente linda, fútil, dolce far niente, a quem os marxistas atribuem todos os problemas do mundo, da incompetência e má distribuição da renda.
Mas no final do filme, depois de muitas tragédias, aparece esta cena que achei deprimente mas muito reveladora.
Mostra quem estava por trás desta “alta burguesia”, quem mandava na pobre coitada da condessa.
Lá estavam o contador, o caseiro, o administrador do caixa, entregando cheques que a condessa assinava, sem ter a menor ideia do que de fato estava fazendo.
Aí, me deu o estalo.
Talvez quem fosse de fato a classe dominante na época, fosse o segundo escalão, os contadores, os administradores de propriedades, os caixas, os puxa sacos e assim por diante.
Eram eles que contratavam os primos, os sobrinhos, os filhos, recebiam comissões sobre todas as compras, superfaturavam e assim por diante.
Ao contrário do que achava Marx, 40% ou mais da “mais valia” ficava com este o segundo escalão. Distribuíam a renda dos ricos para si.
40% lembra a carga tributária brasileira, 40% lembra o lucro que fica com os intermediários financeiros, os hedge funds, os asset managers com sua fórmula 2/20% como taxa de performance.
Agora vejam esta foto, e digam se vocês vêem alguma semelhança.
É um momento histórico a assinatura da Constituição Brasileira, obra do ego de Ulysses Guimarães, que queria aparecer como o salvador da pátria, isto é conhecido.
Mas, quem são todas estas “personalidades” em volta? Quem chamou-os para subir ao palco? Nem deputados e senadores constituintes são. Alguém sabe quais artigos da Constituição eles escreveram?
Quem está entregando o cheque para Ulysses assinar? Ele não queria aparecer sozinho na foto, cadê o Serra e o Luciano Coutinho que escreveram boa parte dos artigos sobre economia?
Por que queriam dividir com o Ulysses a glória do momento, apesar de terem feito muito pouco em prol da Constituição?
Lá, pessoal, estão os verdadeiros donos do poder, o segundo escalão, aqueles que davam documentos para a “alta burguesia” assinar, que despachavam, que sabiam os meandros do poder, sem os quais Brasília não funcionaria.
Eu vejo muita similaridade entre as duas situações. Vocês estão com a palavra.
Caro Prof. Kanitz,
Gostei de seu insight: dá muito o que pensar…
Abraços,
Jeferson
Prof. Kanitz, tambem vejo essa similaridade entre as duas situações, esse bando de sanguessugas que emperra a administração e abocanha dinheiro público. Enquanto tivermos um governo com 40 ministérios e seus milhares de cargos de confiança, cocho para muitos, teremos que engolir taxas, tributos, impostos e tudo mais que nos é empurrado de goela abaixo. É no meio da bagunça que se criam essas pragas nocivas ao desenvolvimento do país.
Quem é capaz de varrer, estruturar, organizar e administrar esse país com força e sabedoria necessaria?
Abraços,
Concordo contigo Kanitz.
O exemplo mais gritante disto é o PT. Fundado com ideologia claramente em defesa dos trabalhadores, assim que começou a adentrar ao poder, tomou face daqueles que criticava. Roubou muito mais que os criticados.
Estimado Prof. Kanitz,
Concordo e parabenizo-o pela comparação.
Bom dia, Kanitz.
Esses contadores, administradores de propriedade. o caixa e o caseiro trabalhavam para o poder (como fazem bem os economistas de hoje, alvo de nossas críticas).
Isso não quer dizer que para a grande maioria da sociedade (inclusive contadores, administradores e caixas) pudesse usufruir desse poder (e, do dinheiro).
Esse fato não garantia (nem garante) o bem-estar social.
Eles trabalham diretamente para o poder e são por ele sustentados. Simples assim.
Na foto no Congresso Nacional, os poucos que queriam aparecer na foto, não representam toda sociedade. Quais direitos foram alcançados e deveres foram determinados para garantir de fato o bem-estar social?
Mais uma vez parece que estás confuso ou tentas confundir. O segundo escalão, nesse caso, – algumas poucas pessoas ou profissionais como queiras -, apenas são recrutados “a dedo” para fazer garantir os compromissos da agenda do poder estabelecido.
É sim. O poder estabelecido é frágil muito frágil. Digo até que ele é insustentável, por isso, de tempos em tempos, se faz “rupturas” para que o poder estabelecido permaneça onde sempre esteve: no poder.
Mais uma vez, como a história demonstra, isso não garante o equilíbrio: os ricos continuam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
E,assim, a “pobre condessa” continua a garantir seus privilégios.
Realmente é muito fácil, e bom, gastar o dinheiro dos outros. Quem tem, ou teve, empregada doméstica que o diga…
Não dá para demonizar apenas o “segundo escalão” e livrar quem assina. Seria o mesmo que isentar o Executivo dessas cagadas todas. Todos fazem parte do sistema.
Caro Prof.
Alguém com a sua aguçada capacidade de visão poderia até escrever um livro relatando tal comportamento através da história.
A tal da “história da luta de classes” acaba por ignorar a sutileza do que parece ser uma subjacente “história do teatro da luta de classes”; afinal, os mestres dos fantoches jamais têm a pretensão de aparecer mais do que suas marionetes, aparecendo apenas no final para receber os aplausos da platéia.
Vejamos alguns exemplos:
Assim já o era no antigo Egito, onde os faraós, na verdade, serviam aos caprichos dos sacerdotes. Estes, por sua vez, manipulavam a imaginação popular a agiam de forma sutil e invisível, satisfazendo suas próprias vontades.
Fato similar ocorreu na antiga Grécia, onde as assembleias seguiam o leme dos mais hábeis oradores, aqueles que Sócrates tanto criticava – os sofistas.
Mas talvez o exemplo mais visível seja o do Império Romano, afinal de contas, o César nada mais era do que um títere nas mãos do senado, que por sua vez dançava no ritmo imposto por alguns poucos, invisíveis donos do poder.
Este seu artigo me fez pensar sobre tal faceta do marxismo, ele ataca os símbolos do poder e não os seus mecanismos. É claro, os símbolos são importantes, eles representam os privilégios e privações destinados a cada classe social, brincam com a ambição dos homens, mas, quando destituídos dão lugar a outros símbolos.
Inté.
Caro Kanitz,
Se o povo elege aqueles com quem tenha alguma simpatia ou por qualquer outro critério (temos Cacarecos, Lulas e Tiriricas como exemplo), os eleitos colocam nos escalões inferiores aqueles que eles querem, raramente seguindo critérios como competência, saber, etc. É a origem do nepotismo.
E quando o eleito é pouco esclarecido, basta encontrar alguém com um discurso um pouco melhor para achá-lo capacitado, e cair na sua conversa.
Qual a capacidade de um Tiririca avaliar e escolher seus auxiliares?
Vereadores, deputados e senadores tem, entre suas funções, propor e elaborar leis. Recentemente em SP o deputado Joogi Hato propôs e conseguiu aprovar na assembléia uma lei proibindo caronas em motos, lei essa que foi barrada pelo Governador.
Tal lei só foi aprovada na assembléia porque não havia ninguém, em nenhum escalão, que um dia já tivesse lido a Constituição. O art. 22, item XI, diz que compete privativamente à União legislar sobre trânsito. Aos estados e municípios cabe somente a organização local: determinar mão, contra-mão, estacionamento, rodízio, etc.
O descalabro que vivemos hoje só tende a piorar, e é tudo o que todos os escalões desejam, para deitar e rolar com cada vez mais facilidade.
Não sei que educação estes assessores tinham na época, mas se tiveram algum então seriam alguém mais abastado, do próprio círculo da pessoa que assinava aqueles papéis.
Duvido muito que um jardineiro, copeiro, cozinheiro teriam algum conhecimento para iludi-lo a menos que fosse um pateta qualquer.
Quanto à foto do senhor Ulisses, diria que seriam aquelas pessoas mais chegadas ao próprio ou de outros deputados e/ou senadores, quiçá de todos os “chefões”, já que seriam poucos, na época, admitidos por concursos públicos, quem dirá em outras épocas…
Podemos ficar aqui mesmo e não além mar, para analisarmos quando da corte portuguesa nos desmandos de seu reinado. Teria o Brasil então sido governado pelos – empregados (?), funcionários (?), que nomes daríamos? – que viviam no entorno da família real, seriam os escravos os verdadeiros senhores do poder?!
Tolice, claro!
Feliz 2012!
Caro, professor Stephen Kanitz. sou angolano e um assíduo leitor dos seus artigos. Este artigo (os verdadeiros donos do poder)faz-me lembrar de muitas coisas que se passam aqui no meu país. Eu costumo dizer aos meus amigos que em Angola acontecem cenas de ficção científica que nem os produtores de Hollywwood conseguiriam reproduzir em filme.
Eu sugiro ao professor que acompanhasse o trabalho do jornalnlista angolano RAFAEL MARQUES e o professor poderia ter mais provas de como não admnistrar um país.
Professor, simplesmente brilhandte, como sempre, suas sínteses são reveladoras. Olhando os comentários aqui, todos muito coerentes, acrescento que de fato não dá pra isentar o executivo das decisões que ele assina, por isso a necessidade de elegermos para esse cargo alguem que tenha caráter e personalidade muito forte e acima de tudo uma visão própria sobre as coisas pelas quais decidirá, mas não uma visão de gabinete, pois essa sim, lhe é apresentada pelo segundo escalão. Todos temos um segundo escalão em nossas vidas, e a responsabilidade de mantê-lo ou escalar um novo será sempre nossa, e no caso em foco, do executivo eleito. Portanto, vale a máxima: diga-me com quem tu andas e lhe direi quem és”; ou “quem com os porcos se mistura, farelo come”. Assim, a mudança disso passa pelo voto.
Prof.Kanitz.
Quando o Sr vai se candidatar a algum cargo eletivo? Me informe se isto acontecer,a sua lucidez ilumina e o meu voto seria seu! Abcs!