[pullquote]Quem acha que existe um único tipo de Capitalismo está muito desatualizado[/pullquote]
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Existem três tipos de Capitalismo.
Quem acha que existe um único tipo de Capitalismo está muito defasado.
Da mesma forma que existem vários socialismos, existem vários capitalismos e corremos o perigo de destruir um em particular.
Temos o Capitalismo da Exploração, o Capitalismo da Cooperação e o Capitalismo da Especulação. O Capitalismo da Exploração é aquele tão bem descrito por Karl Marx, da empresa controlada por uma única família e gerenciada por ela com o objetivo da maximizar lucro, reinvestir este lucro acumulado, porque lucro era a única forma de gerar capital na época.
Na época de Karl Marx não existiam bolsas de valores e empresas de capital democrático, que conseguiam capital e poupança via lançamento de ações. Maximizar e reinvestir este lucro era a única opção.
No Capitalismo de Karl Marx as empresas eram muito pequenas, 200, nacionais, e por isto empresários eram favoráveis a regimes fascistas, nacionalistas que garantiam um mercado fechado.
O crescimento das empresas era lento, dependia do lucro reinvestido, e por isto não conseguiam absorver na rapidez necessária o desemprego gerado pelas novas tecnologias descritas por Karl Marx.
O erro de Karl Marx foi confundir capital com tecnologia, e não perceber o impacto da revolução administrativa e financeira que surgia diante dos seus próprios olhos, que viria a ser o Capitalismo da Cooperação.
O Capitalismo da Cooperação foi o capitalismo que substituiu as famílias capitalistas como gestoras, limitadas a oito parentes em média, por enormes sistemas de recursos humanos e de técnicas administrativas que geraram cooperação mútua de pessoas estranhas entre si juntando não 200, mas 20.000 a 200.000 empregados como hoje.
O crescimento do tamanho das empresas é um dos principais fatores da riqueza das nações, como mostram as tabelas abaixo, e não a
educação e políticas públicas, como muitas vezes é alegado.
A força reserva de trabalho prevista por Karl Marx e um salário ínfimo eterno não se concretizaram, uma vez que empresas do Capitalismo da Cooperação contrataram num ritmo muito superior do que o desemprego causado pelas descobertas tecnológicas a que Marx se opunha.
Isto nos países que valorizaram os protagonistas do Capitalismo da Cooperação, que foram os EUA, Japão e Coreia. Não o Brasil, infelizmente.
Tivemos o melhor dos dois mundos. Crescimento brutal da produtividade do trabalhador devido a tecnologia e o capital, com o emprego em massa proporcionado pelo Capitalismo da Cooperação.
As famílias nacional-fascistas, foram substituídas por administradores profissionais, alguns treinados em administração socialmente responsável e que se tornaram globais, levando tecnologia e capital para países mais pobres do terceiro mundo, levando know how e as técnicas do Capitalismo da Cooperação.
O Capitalismo da Especulação Infelizmente, a partir de 1980 os governos começaram a se endividar assustadoramente, ao ponto que hoje EUA, Itália, Espanha e até a Cidade de São Paulo, possuem dívidas assustadoras. Em 1987, o Brasil quebrou devido seu elevado endividamento estatal externo. Em 1994, idem.
Este Capitalismo gerou um fenômeno conhecido em economia como “crowding out”, sufocando o Capitalismo da Cooperação, o capital é limitado, e todos os sistemas concorrem entre si. O triste é que este Capitalismo na mão do Estado tinha como objetivo sufocar o Capitalismo da Exploração de Karl Marx, sem perceber que estavam sufocando a verdadeira solução.
Pior, estas dívidas estatais permitiram um novo tipo de Capitalismo, o Capitalismo da Especulação gerando enormes possibilidades de ganhos àqueles que entendessem de juros, câmbio, déficits públicos, e tivessem amigos no governo.
Derivativos dos mais variados tipos foram criados como Futuro de Juros, Câmbio, Arbitragem Long -Spot, Swap Reversos de Câmbio e permitiram a especuladores ganhar muito dinheiro, como George Soros, Black Scholes, Econometristas Quantitativos e Hedge Funds.
Estes por sua vez se tornaram grandes incentivadores das políticas Monetárias e K
eynesianas governamentais com mais endividamento do Estado, intervenções do estado na economia, que permitiam inside information e muito mais volatilidade.
É este Capitalismo que aqueles que querem Ocupar Wall Street precisam eliminar, e com razão. Mas nada tem a ver com os bancos e seus executivos.
Se rotularmos todos os três capitalismos no mesmo saco, se incluirmos o Capitalismo da Cooperação, aquele que Harvard e Stanford e todos os administradores profissionais, os engenheiros de produção, as psicólogas dos departamentos de RH, os profissionais de comércio internacional, os advogados de contratos e tantos outros criaram, poderemos voltar à curva da prosperidade rapidamente no sentido contrário das tabelas acima.
Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu o Capitalismo da Exploração, eliminando o capitalista como gestor, pulverizando o poder dos capitalistas nas empresas de capital democrático, criando uma preocupação com os stakeholders e não somente com os stockholders.
Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu a figura do Dono e Patrão e colocou o Capital na mão de trabalhadores e seus fundos de pensão.
Infelizmente no Brasil, as universidades brasileiras e seus intelectuais nunca apoiaram os defensores do Capitalismo da Cooperação, razão pela qual ainda temos o Capitalismo da Exploração das empresas familiares, com poucas empresas de capital democrático inscritas no Novo Mercado (56), e uma classe de administradores profissionais sem apoio da intelectualidade do Brasil.
Por isto, o Brasil está mais próximo do Capitalismo da Especulação, com tantos Hedge Funds, juros altos, Swaps Cambial Reversos e dominado por aqueles que entendem de câmbio, juros e déficits em vez de produtividade e eficiência empresarial e governamental.
Se você estava propenso a trazer o Ocupe Wall Street para o Brasil, pense bem porque você estará fazendo mais um desserviço ao Brasil.
Mais um, porque provavelmente você nunca apoiou, sequer sabia do Capitalismo da Cooperação.
Uma pena!
Se o Capitalismo de Cooperação não convence, mesmo sendo o melhor capitalismo, a culpa é dos seus defensores que não se comunicam bem com a sociedade.
Concordo com vocÊ Samuel.
E o “capitalismo” chinês então deve ser a mistura dos três, não é?
Certamente enfatizando as piores características de cada um desses 3 modelos.
… ia esquecendo:
“O crescimento do tamanho das empresas é um dos principais fatores da riqueza das nações, como mostram as tabelas abaixo, e não a educação e políticas públicas, como muitas vezes é alegado.”
A tal primavera árabe mostrou a existência de muitos países com educação razoável, mas que não conseguiam empregar estes ex-alunos. Tunísia, Egito e até a Espanha são esses exemplos.
Quase sempre concordei com os artigos do professor Kanitz, no entanto neste discordo em grande parte. Entendo que existe somento o Capitalismo as vezes dito como Liberalismo e o Socialismo que muitas vezes se reveste de Comunismo. A diferença entre embos é que o primeiro apesar de não ser perfeito, ainda se mostra muito superior. Já o segundo tem mostrado sua completa falência como se pode verificar nos últimos 70 anos e que ainda tem sobrevivido graças ao avanço sobre a propriedade privada. O Capitalismo sobrevive sem o socorro do Estado porém o socialismo jamais. É por isso que vemos a cada dia nossas liberdades individuais diminuirem e as dívidas públicas em países que adotam o socialismo aumentarem assustadoramente.
Superior em quê, cara-pálida ??
Professor Kanitz,
“Na época de Karl Marx não existiam bolsas e empresas de capital democrático, que conseguiam capital e poupança via lançamento de ações. Maximizar e reinvestir este lucro era a única opção.”
O Sr. poderia comentar sobre as bolsas holandesa e inglesa que financiaram as Companhias das Índias?
Penso que elas são anteriores a Karl Marx e que o Sr. não as considera suficientemente democráticas em seu artigo.
Estou correto?
Será que Karl Marx desconhecia as mesmas?
É uma linha de análise e classificação interessante.Não sei se dá para concordar com tudo sem um aprofundamento histórico maior.Mas a ideia mais interessante é a da cooperação a menos, é a de ver capitalismo como instituição quase religiosa e socialismo como algo finito.Duvido que um Ocupe Wall St. nestes termos se estabeleça aqui pelo lado WS. Ele pode, e não seria nenhum desserviço, estabelecer-se justamente pelo lado da cooperação que você chama a atenção e é sem dúvida uma das melhores trilhas a se perseguir.Principalmente por que incorpora a democracia na raiz do significado da palavra ‘cooperação’.
Professor, a ascenção de Margaret Thatcher e Ronald Reagan ao poder e a difusão do neoliberalismo, sepultando o welfare-state na mesma época que eclode o boom do capitalismo da especulação é mera coincidência?