Exportar Siderurgia Será Melhor do Que Minério?

 

A Vale sempre foi uma estatal. O Bradesco simplesmente agiu como um fiel depositário, permitindo a Vale ter uma administração profissional, sem interferência política, e os resultados foram espetaculares.

 Só que os desenvolvimentistas seguem agora uma outra teoria.

“Absurdo o Brasil estar exportando minério para os chineses processarem.

Daqui a pouco eles vão estar exportando o nosso proóprio minério com muito mais valor adicionado.”

 “Vamos deixar de ser bobos, vamos  criar o maior parque siderúrgico do mundo, usando o nosso próprio minério.”

Parece razoável.

Mas vamos analisar isto do ponto de vista de um administrador.

Minério e aço são commodities.

Nunca poderemos vender o nosso aço de forma diferenciada, como Aço Bom Bril ou Aço Apple, e obter um prêmio.

Foi o problema da Intel que tentou criar o logo “Intel Inside”, mas não deu em nada.

Ninguém vai comprar um carro porque tem Aço Vale Inside.

1. Estaremos entrando num mercado já dominado pelos chineses, e eles têm enormes vantagens competitivas. O Custo do Governo é baixo, em torno de 18%, o nosso é 40%. Os juros são 3%. Aqui são 12% nominal, e eles estão mais próximos dos mercados consumidores do que nós.

2. É um setor intensivo de capital, e bota intensivo nisto, e somos um país que não incentivamos a acumulação de capital.

3. É um setor intensivo de engenheiros e nós não estamos mais treinando engenheiros, e os engenheiros que temos vão trabalhar em hedge funds.

4. Se exportarmos Siderurgia, e não Mineração onde a nossa margem de lucro é 90%, por que exportar metal onde a margem é de 10%?

5. Muito esforço, capital e engenheiros que poderiam ser melhor utilizados criando produtos que vão direto para o consumidor, o “last mile”, que todos nós administradores sabemos é a chave do futuro.

31 Comments on Exportar Siderurgia Será Melhor do Que Minério?

  1. Na verdade, estamos diante de uma questão eminentemente ideológica. O capitalismo de Estado que o PT (e a esquerda botocuda sempre defenderam) levou ao colapso da ex URSS simplesmente porque a não concorrencia engessou sua economia. A nossa, hoje, ainda mantém a tradição colonial, de exportação de commodites. A essencia do desenvolvimento brasileiro é fundada no financiamento externo, daí nossa parca capacidade de termos um crescimento do PIB maior que 5% de forma sustentada. O fortalecimento de empresas como a Vale, sustentada pelo “mercado” diminui espaço de interferencia do Estado – e dos “negócios” que seus dirigentes podem auferir. É disso que se trata!

  2. OBRIGADO PELA AULA. NAO TENHO OUTRA COISA A FAZER, DO QUE REPASSAR A TODA MINHA AGENDA DE E MAILS.
    DESCONHECIA MUITAS DAS OBSERVAÇOES, PRINCIPALMENTE A DO BREAK EVEN A 93 %!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    PRA SER SINCERO, SOU COMPLETAMENTE IGNORANTE NO ASSUNTO DO MINERIO, MAS TE PERGUNTO:
    NAO ESTAO QUERENDO FAZER COM A VALE, O MESMO QUE VEEM FAZENDO COM A PETROBRAS NOS ULTIMOS ANOS???????

  3. Muito bem colocado Professor. É preciso diminuir a intervenção do Estado na economia e colocar as pessoas certas nos lugares certos, além de fazer aquilo que somos melhores. A competição existe independente do regime ou da ideologia, portanto os melhores é que produzem riqueza e não a sua destruição, a ineficiência causa miséria como se tem visto ao longo da história.

  4. Prezado Kanitz,
    Concordo plenamente com tua análise sobre exportar minério x exportar aço, além disso, os chineses não precisarão comprar nosso aço pois produzem-no em grande quantidade e de boa qualidade.
    A saída do Sr. Roger Agnelli é decorrente do ciúme dos PTistas que não conseguem imprimir à Petrobrás uma administração da qualidade daquela que existe na Vale (que já era muito melhor ainda antes da “privatização”) é muito mais uma incompetência administrativa que leva a descisões idiotas, como esta. Como disse o Sr. Marcelo Suano n’O Globo de ontem, o Agnelli é para a Vale o que foi o Jack Welch para a General Electric.

  5. Subdesenvolvimento não se improvisa, necessita de esforço permanente de gerações. O BNDES e o governo do PT estão no caminho certo, vão conseguir manter este mercado de 190 milhões de habitantes, com recursos naturais abundantes. no subdesenvolvimento por muitos anos ainda.
    Não é qualquer um que consegue ser tão eficiente como esta turma parece ser.
    Estão competindo com Christina Kirchner e com o Comandante Chàvez pelo Oscar do subdesenvolvimento permanente!

  6. Caro Kanitz,
    Parabéns pela sua análise. Você colocou muito bem as coisas, mas o que interessa aos desenvolvimentistas hoje em dia é a criação de um grande mercado interno consumidor, e para isto ele precisa de gerar empregos, a siderurgia gera mais empregos que a mineração. com mais brasileiros trabalhando, há um aumento da renda interna e consequênte diminuição da pobreza, não importa se a siderrurgica é competitiva, eles só vão exportar o excedente produtivo.

  7. Caro Kanitz.
    pior do que estão fazendo com a VALE é a participaçao do bradesco em compactuar com toda essa mandracaria por conta do “banco postal” que está correndo solto às caladas.
    já se vê a PETROBRAS se enfiando em area de petroquimicos q nunca foi sua praia.
    enfim, estamos vendo uma nova forma de adminstração federal queimando os feitos das administrações anteriores insistindo que consegue fazer melhor. voltamos ao autoritarismo ou é efeito das chamadas “empresas campeãs” !!!!!

  8. Stephen Kanitz para ministro da Fazenda, já! Você é bem menos hostil à Dilma que a maioria dos articulistas e muito, muito mais compentente que Guido Mantega. Seria uma grande jogada da presidente!

  9. Só para esclarecer a Teoria da Vantagens Comparativas certamente não é seguida pelos desenvolvimentistas da Cepal, na qual se insere o atrapalhado Mantega.
    Por outro lado o seu texto ilustra justamente um exemplo de Vantagem Comparativas. Será menos vantajoso para O Brasil se for forçados a investir num setor no qual teremos menor produtividade e lucratividade.
    Você, como sempre, acusa os economistas, mas o Roger Agnelli é economista… Além disso, Eike Batista, quase-engenheiro e mega-empresário, vem puxando esse coro, além de se aproximar do governo. Aliás, não me surpreenderia se ele comprar a participação do Bradespar na Valepar nos próximos meses.
    Quanto à esses economistas que caem de para-quedas na administração de estatais eu acho o cúmulo do absurdo.
    Esse golpe na vale foi no mínimo vergonhoso e escancara a falta de governança coorporativa das empresas brasileiras.

  10. Assim commo no extrativismo se vc só vende o produto e não o beneficia vc não tem um bom lucro, vai gastar em um desenvolvimento despesas para montar esse processo industrial mas compensa sim em muito, O Brasil não deve ser visto apenas como produtor de materia prima!
    Bom mas falando em Venda : “A Vale depreciada antes e agora Vale tudo a Vale que não valia Nada, como se vê na politica tudo Vale !”

  11. Caros,
    Concordo com a análise, e obrigado pelo excelente post, entretanto gostaria de saber um pouco mais sobre o que não deu certo com o Intel Inside. Não aumentou, ao menos, a visibilidade da marca junto aos consumidores? Eu, enquanto consumidor, considero a Intel muito eficinente em suas campanhas de impacto ao consumidor final.
    E com a petrobras? Qual o problema? Sua capitalização foi excelente em muitos aspectos, inclusive uma ação apropriada e premiada internacionalmente. Já o retorno a petroquímica é um movimento natural, desde a privatização da petroflex, que bloqueou seu avanço e não foi um movimento bem sucedido. O que mais está errado?
    Agradeço mais uma vez pelo excelente conteúdo

  12. Poe que então a GERDAU faz propaganda na TV com uma mulher visitando um apartamento para compra e furando a parede com uma marreta para ver se usaram AÇO GERDAU na construção??
    Abraços

  13. Como não uma empresa que domina 80,60 % do mercado mundial.E preço médio dos seus produtos custam quase o dobro que o do concorrente AMD.
    E na carcaça de qualquer computador se ve uma etiqueta I3 , I5 e I7.

  14. Professor Kanitz!
    Ninquém observa que as empresas brasileiras estão vendendo produtos (aos chineses) é para o “estado” chinês e não para “empresas/mercado”. A um país de 1,6 bilhão de pessoas. Me parece sempre que eles sabem o que querem (nos próximos 20/30 anos) e nós não temos a mínima idéia de onde estamos indo e sujeitos a estas forças (de estado). Fico imaginando se eles resolverem adquirir “proteina animal” do Brasil, nosso rebanho se esvai em 06 meses. O que queremos dos chineses? Eles parecem ter total domínio do que querem (e conseguem sempre) de nós.

  15. Desculpe, mas um processador da Intel, é determinante na escolha do computador a ser adquirido.Emtre em computadpr que tenha um processador Intel e outro com outra marca, o consumidor vai preferir um computador com processador Intel.De prefência um Dual Core.

  16. Talvez um pouco de ousadia possa melhorar a fraca perspectiva econômica produzida pelas commodities brasileiras. Um novo ciclo da borracha, como dizem por aí. É ruim heeemm… ???

  17. Olá Sr Stephen Kanitz. Como vai a sua costumeira implicância com os economistas? Pelo visto vai bem.
    No momento em que VC vai solucionar o esbulho que estão querendo fazer com a Vale; diz:”Vamos raciocinar como administradores e não como ECONOMISTAS”. O Sr mesmo, só é o administrador competente que se apresenta, por pensar como economista. Toda a observação ou ponderação tem componentes de um administrador com conhecimento real em economia, ou ainda de um economista doutorado em ADMINISTRAÇÃO.
    Não é o FHC ou PSDB que está querendo mudar a Vale. É um governo que jajá estará com a dívida interna na casa do trilhão e oitocentos…é só aguardar. Cuidado a dona Dilma é Economista.
    Sou economista e estou com VC nas observações sobre a Vale.
    Vou abusar do seu conhecimento e pedir um comentário sobre como o governo Lula com a taxa Selic em média 50% da taxa selic do governo anterior, com um mercado mundial em franca expansão, deixou a dívida interna ir de 800 bilhões a 1 trilhão e 500 bilhões, tendo mensalmente ao longo do governo recordes de arrecadação.
    Grato antecipadamente

  18. Edgar, voce é o único economista que combate as minhas ideias, e não sae desancadando a minha pessoa. Por isto eu te respeito.
    Descobri esta semana porque demitiram o Agnelli,e colocaram um Administrador com Mestrado no IMEDE.
    Agnelli era um Economista que só entendia de preço de minério. Seu sucesso foi ser agressivo em aumentos de preço, e nada mais.
    Só que estava alienando nossos clientes, que sairam comprando a Africa, fechando acordos com a Tinto, numa atitude Ganha Perde.
    Murilo é um estrategista de longo prazo, nem conhece a Dilme, não é de esquerda, simplesmente é muito mais competente.
    Quanto aos Economistas já joguei a toalha. Voces conquistaram o poder e não vao largar nunca mais. EM 2014 teremos Dilma x Aécio, 2 ecos, em 2012 teremos em SP Serra x Haddad 2 ecos.
    Voces são somente 40.000 mas muito mais espertos e corporativistas. VOu pleitear inscreção no seu sindicato conto com a sua recomendação.

  19. Enfim alguém percebe a loucura que estão tentando fazer com a Vale. Essa incessante interferência estatal vai levá-la à banca rota, certamente.
    Quanto a Agnelli, não se pode tirar seus méritos. Foi ele que transformou a Vale no que ela é hoje. Ao menos no que era até uns meses atrás antes do PT meter seus tentáculos nela e desvalorizar suas ações.

  20. Isso mesmo, vamos beneficiar o minério da Vale (nosso)- através da pelotização – e vendê-lo aos chineses, japoneses, alemães, americanos e, se possível, até mesmo aos australianos ! PARABÉNS pela brilhante análise.
    um dos que acredita na VALE

  21. OTIMOS COMENTARIOS,………………..O PROBLEMA NO FUTURO PROXIMO SAO OS CHINESES. AI MORA o PERIGO.DAQUI 5 ANOS , ELES SERAO GRANDES EXPORTADORES DE AÇO.
    MAS AI TEM UM PROBLEMINHA NAO TAO OCULTO COMO PARECE:
    BRADESCO.DORMINDO COM O INIMIGO.

  22. A Vale hoje é uma empresa com um produto só e um cliente só. Quantos anos ela ainda vai conseguir impor seu preço a este cliente?
    Em poucos tempo, é o cliente que estará impondo seu preço à Vale. A conta vai cair no colo do sr. Roger Agnelli?

  23. Uma breve observação, Digníssimo Senhor Kanitz, como o senhor bem escreveu:
    “Melhor pensar no futuro, algo que os chineses fizeram, mas o futuro em outro setor. Como exportar Medicina.”
    parece óbvio não é mesmo? Mas não colocado em prática plenamente pelo Brasil (“deitado em berço esplendido sempre), pois veja então uma pequena amostra de caso concreto…
    … o Estado do Piauí ((o mesmo de que já disseram frase famosa de que “se desaparecesse do mapa do Brasil não faria falta”)), que tem Escolas e Educação PRIVADA que rivaliza (segundo os dados do ENEM 2008 e 2009 (c/ 2010 ainda não divulgados) pelo MEC), possui pelo menos 6 (seis) das escolas entre as 35 melhores do Brasil, o que as coloca entre as melhores, rivalizando de IGUAL pra IGUAL com o riquíssimo eixo São Paulo, Rio, Minas etc, e por essa mesma razão detem também Saúde e Hospitais PRIVADOS de referência no Brasil, e por essa mesma razão detem também Profissionais da Saúde (Médicos etc) de excelente nível técnico, que assistem as populações de diversos Estados da Federação, tanto no sistema público como privado…
    Por que o Brasil não pode maximizar essa vocação para maiores ganhos de escala se o Estado do Piauí já o faz há anos, pois quem é dessa terra bem sabe que o caminho do sucesso é o estudo e excelência profissional.
    E a propósito caríssimo Mestre Kanitz, temos formação em Ciências Econômicas também, o que nos habilita a fazer parte desse tal grupo “unido” ((nas suas palavra: ‘somente 40.000 mas muito mais espertos e corporativistas’)) pela fome de poder… ((“CONHECIMENTO É PODER”)), por isso é (será??) um prazer tê-lo como colega de profissão e poder, contudo, cumpre ressaltar que,infelizmente, já não possuo inscrição no Conselho da classe em face de outra formação que nos dispensa de tal regra burocrática (pelo menos por enquanto :):)
    … enfim, é sempre um prazer ler, refletir e. quanto possível, comentar suas reflexões nesse espaço que o senhor franqueia a todos nós.
    Grato pela sua estimada atenção nobre Mestre-amigo.

  24. Voce discute ideias e não pessoas.voce é limpo, e por isso poderemos continuar nos alfinetando, mas sempre admirando sua honestidade e fidelidade às proprias crenças. Se viesse seria bem vindo e iria melhorar o nível da discussão entre os economistas.

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