Estimulando A Curiosidade de Nossos Filhos

Durante a estada de Richard Feynman no Brasil – um dos poucos ganhadores do Prêmio Nobel que o Brasil pôde conhecer de perto -, os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos métodos de ensino na área da física.

Feynman pegou cinco ou seis livros de física adotados pelo MEC naquela época e um mês depois disse que só daria aquela aula no último dia de sua permanência no país.

No dia fatídico, dezenas de professores de física se reuniram para ouvir sua palestra. Essa história é contada por ele no livro Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman.

Começou assim a palestra:

“Triboluminescência, diz no livro de vocês, é a propriedade que certas substâncias possuem de emitir luz sob atrito”.

E mostrou como nossos livros apresentavam a matéria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos.

Isso foi escrito há trinta anos, mas pelas queixas dos alunos, nossos livros de física não melhoraram tanto quanto deveriam.

Segundo Feynman, um livro americano abordaria a questão de forma um pouco diferente.

“Pegue um torrão de açúcar e coloque-o no congelador.

Acorde às 3 da manhã, vá até a cozinha e abra o congelador.

Amasse o torrão de açúcar com um alicate e você verá um clarão azul.

Isso se chama triboluminescência.”

Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros didáticos americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos métodos de ensino apresentam muita informação e teoria em vez de despertar a curiosidade.

Criamos alunos tão bem informados que no Brasil inteligência virou sinônimo de erudição. Inteligente é quem sabe muito, quem repete as teorias e conclusões dos outros. Um dia ele poderá até ter opinião própria, mas será difícil se ninguém estimular sua curiosidade.

Sem dúvida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que já foram percorridos. Erudição não mostra necessariamente inteligência, demonstra que a pessoa tem boa memória.

8 Comments on Estimulando A Curiosidade de Nossos Filhos

  1. Excelente explanação. Acredito que seja este um dos principais problemas da educação brasileira(apesar dos pontos positivos), juntamente com o desinteresse apresentado pelos jovens, e as precárias condições de estudo neste país.

  2. No ano passado desisti de ajudar meus filhos, não havia como. Olhava para o livro didático, impresso por editora da escola, e ficava profundamente desanimado, eram estranhos e sem sentido. Minha única orientação era a de que deveriam decorar o que a professora queria e estudar, por fora, na internet. Graças ao Bom Deus mudamos de cidade e de escola.
    Quanto a mim, nunca entendi por que os professores de português trazem seu conteúdo de faculdade para a sala de aula de colégios. O que adianta conhecer a estrutura de um texto se nem sabemos interpretar um texto, se não sabemos expressar pensamentos. Decoramos apenas para passar e depois. Minha sorte foi que desde pequeno lia bons jornais e livros.

  3. Grande Explanação Prof. Kanitz, inclusive vai de encontro com um assunto que estava discutindo dias atrás com um colega sobre os concursos públicos, que vai na mesma linha de raciocínio do seu texto, pois quem passa num concurso é quem “decorou” e não quem raciocinou para chegar no resultado, é por isso a nossa péssima qualidade em vários setores públicos.

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