A nação estremece cada vez que os desenvolvimentistas querem fazer “algo”.
Foi o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek que desembocou na inflação brasileira.
Foram os desenvolvimentistas que optaram por endividar o país em dólar, no meio da crise do petróleo.
Foi o discurso desenvolvimentista que criou os bancos estaduais e que vinte anos depois tiveram que ser saneados.
São deles os inúmeros impostos e fundos obrigatórios para financiar seus setores prediletos.
Já pagamos caro por decisões do passado, que geraram crescimentos curtos e efêmeros.
Os médicos também eram conclamados a fazer “algo” pelos seus doentes.
Galeno, sem nenhum embasamento científico, achava que as doenças eram causadas por desequilíbrios internos devido aos humores, teoria que perdurou por mais de 1 000 anos.
Periodicamente, esses humores eram mal distribuídos em nosso corpo e um médico drenava o excesso.
Daí vieram as sanguessugas e as punções, que tiravam litros de sangue com anticorpos e nutrientes justamente de quem mais precisava.
Os pacientes morriam às pencas, mas pelo menos “alguém estava fazendo algo”.
No fim do século XVIII, durante as epidemias, alguns médicos mais observadores perceberam, horrorizados, que os pacientes não atendidos por falta de tempo sobreviviam em maior número que os atendidos.
Os primeiros médicos que externaram essa constatação foram imediatamente trucidados, vilipendiados e banidos, como todos aqueles que, no Brasil, alertavam que os sucessivos planos bem-intencionados mais atrapalharam do que ajudaram nesses últimos 36 anos.
Quando esses médicos galgaram os postos de administradores de hospitais, enganando por anos a fio seus colegas quanto às suas verdadeiras convicções finalmente puderam mudar as práticas médicas da época.
Em vez de aplicar as malucas teorias de Galeno, decidiram simplesmente fazer “nada”.
Os pacientes melhoraram porque, então, seus anticorpos puderam agir por conta própria, sem ter de lutar também contra sanguessugas infectadas e contra a drenagem de sangue, feita com agulhas não esterilizadas.
É muito sedutor o discurso de que alguém tem uma agenda para nos desenvolver.
Mas será que somos meras peças do tabuleiro econômico, sem rumo nem movimento, peões que precisam ser movidos por mãos esclarecidas?
Quem disse que os desenvolvimentistas sabem qual o melhor caminho que eu e você devemos seguir?
Se soubessem prever os setores de futuro, seriam arquimilionários investindo na Bolsa, mas infelizmente não o são.
Ninguém é dono do nosso futuro a não ser nós mesmos.
Ninguém tem o direito de decidir o que eu e você devemos fazer.
A única coisa que precisamos de um governo é um ambiente estável que permita o desenvolvimento por conta própria.
Estabilidade é crescimento, o nosso crescimento.
Não deve ser fácil para o Ministro da Fazenda lidar com todos aqueles que querem nos desenvolver fazendo “algo”.
Provavelmente, todo dia ele recebe inúmeros pedidos como privilegiar um setor favorito, dar um subsídio seletivo, reduzir alguma alíquota, transferir algum recurso, criar alguma isenção, favorecer um grupo empresarial em detrimento de outro, proteger um setor com tarifas elevadas, criar uma política industrial, cobrir algum furo de caixa, conceder algum empréstimo a juros subsidiados.
Dizer “não” raramente traz satisfação, amigos e manchetes de jornal, muito menos fama de salvador da pátria.
Portanto, se conseguirmos resistir aos inúmeros pretendentes que, de tempos em tempos, querem nos desenvolver fazendo “algo”, 170 milhões de brasileiros poderão, um dia, fazer “muito”.
Publicado na Revista Veja, Editora Abril, edição 1680, ano 33, no 51 de 20 de dezembro de 2000, página 22.
O artigo é tão sensato que deveria ser publicado mensalmente!
Eu discordo completamente de uma das idéias mais importantes em sua argumentaçao.
A idéia de que ao estado não cabe nada além do papel de garantir o cumprimento das regras do jogo é uma das responsáveis pela crise que aí está.
Esta idéia já foi refutada em mentes que perceberam que o bem comum não é possível quando os indivíduos só estão mirando seu benefício individual. John Nash explicou muito bem isso.
O capitalismo liberal foi capaz de gerar empreendimentos eficientes mas não conseguiu tornar-los eficazes pois estes diferentes agentes caminham em rumos opostos mas estão acorrentados dependendo uns dos outros.
Os países que vão ser destacar agora são países que como a china dão ao estado não apenas o papel de garantir as regras do jogo mas o de ser um jogador que joga por todos.
Quando o neoliberalismo foi cunhado não existia uma china crescendo a 10% ao ano. O melhor exemplo de economia planificada era o malsucedido soviético. Via-se a administração pública como sinônimo de administração ruim.
Hoje, até mesmo no brasil, temos exemplos de estatais que surpreendem o mundo pela sua eficiência e capacidade de inovação. A Petrobrás e o banco do brasil são empresas onde o estado exerce influência e esta influência não pode mais ser chamada de ruim.
O liberalismo foi ótimo para criar sistemas em que os agentes competem tanto que sabotam uns aos outros e o resultados todos pagam.
Enquanto os agentes tiverem uma visão unicamente competitiva o liberalismo não será possível pois vai sempre depender do estado como único que luta pelo bem comum.
Já que o assunto é sobre os novos empossados, tentei achar um bom motivo para o Tiririca ser deputado, no link abaixo de meu blog.
http://reidasbluechips.blogspot.com/2010/12/nao-sei-se-tu-me-amas-entao-para-que-tu.html
Professor, que isso? Laise Fair?? Isso já não foi suficientemente abordado pela história? Discordo completamente de sua teoria. Olha só, O PROGRESSO, é uma LEI Natural. Tudo evoluí. É incontestável. É só ver a história da humanidade. A Intelectualidade, própria do ser humano civilizado, deverá garantir um ambiente no qual o desenvolvimento seja acelerado, com o melhor aproveitamente dos recursos disponíveis e que ainda, seja em beneficios da maior parte, se não de toda a comunidade.
Pela sua lógica, é mais ou menos o pensamento dos antigos Barões do Café.
O Brasil deve seguir sua vocação Natural. Devemos continuar sendo o país que exporta minério de ferro, madeira, alimentos, carne…
Ao contrário das postagens, não considero o artigo do professor Kanitz neoliberal. Vendo a data,ano 2000, estávamos nos recuperando da desvalorização cambial do real, portanto não havia o ufanismo de hoje.
Retrata a realidade política do Estado sabe oniciente, onividente e onipresente, que deve cuidar dos cidadãos indefesos e boçais. Ainda restava o saudosismo do Estado empresário.
Um Estado que eu considero bom é um Estado que promove opertunidades e meios para as pessoas se desenvolverem, empresas crescerem, prosperidade.