[pullquote]Nossas empresas estatais somente eram estatais porque negavam o direito de voto aos acionistas preferencialistas.[/pullquote]
“O que vocês administradores entendem de democracia?”, pergunta um professor de Sociologia e Ciência Política, da USP, num jantar.
Uma das verdades escondidas a sete chaves pela academia é que administração é a profissão que mais testou e pesquisou formas inovadoras de democracia.
Ninguém acredita, mas é isto mesmo.
Há mais de 500 anos, já testamos mais de 6 milhões de formas de democracia, contra provavelmente 600 testes em países e seus regimes, estudados por cientistas políticos.
Me refiro as empresas de capital democrático e às várias formas de governância e de regimes eleitorais, que já testamos nas empresas e nas assembleias de acionistas.
É muito triste que a academia em geral não divulgue nossas pesquisas e conclusões aos futuros jornalistas, políticos, sociólogos e cientistas sociais.
Por isto, a maioria dos brasileiros não sabe que nossas empresas estatais somente eram estatais porque negavam o direito de voto aos acionistas preferencialistas, conseguindo o controle operacional com somente 33% ou 17% do capital efetivo da empresa.
E, chamavam isso de “regime democrático de direito”.
Acionistas preferencialistas recebem 10% a mais de dividendos em troca do silêncio, o que para nós administradores socialmente responsáveis é uma forma de comprar votos (não votando), e claramente ilegal.
Isto é a democracia do regime militar de 1964, que ainda prevalece na Petrobras, Eletrobras, Vale do Rio Doce, mas não no Banco do Brasil.
O famoso Contrato Social, atribuído incorretamente a Rousseau, na realidade foi um contrato social estabelecido pelos tripulantes do Mayflower, que chegaram em Plymouth, nos Estados Unidos, e metade se rebelou.
Metade queria continuar, como previsto, para a Virginia. A outra metade se recusou a pegar um barco novamente na vida.
O pessoal de Virginia aceitou ficar para não dividir forças, mas em troca exigiu algumas demandas que se tornou o primeiro contrato social da história.
Para elaborarem esse contrato, usaram o Contrato Social da Cia. da Índias, dona do Mayflower, e que ficava com o capitão.
Até hoje usamos o termo Contrato Social definido na Constituição da empresa, como os diretores serão eleitos, como será a prestação de contas, quem irá auditar as contas, etc.
Tudo isto normalmente é definido na Ata de Constituição da empresa. Dizer que foi Jean Jacques Rousseau que inventou tudo isto, e não vice versa, é faltar com a verdade da história.
CAro Kanitz.
o inferno está cheio de gente bem intencionada.
por que a administração de empresas dá certo e a administração publica “não” ? a resposta está justamente no “o que eu levo nisso” .
altruismo é coisa de idealista. hoje, o q vale mesmo são as vantagens.
Democracia nas organizações empresariais é bem diferente da democracia na política.
Na política, o voto irresponsável dilui a responsabilidade das ações do eleito para todos.
Nas empresas, o voto irresponsável é mais controlável por causa do menor número de sócios, que podem inclusive comprar a participação de algum irresponsável para eliminá-lo da sociedade.
O grande valor de uma ideia reside em sua lógica e coerência e não pelo fato dela ser defendida por uma maioria. Não cabe a maioria decidir a lei que executa um homem encarcerado e nem mesmo se ele é obrigado a se alistar nas forças armadas ou a votar. Tive vergonha de dizer a um norte-americano que aqui no Brasil sou obrigado a votar e que o meu dever de fazê-lo é entendido aqui como direito. Nenhuma forma de coerção individual deveria ser permitida em uma sociedade formada por homens livres. A democracia que se pratica aqui é, portanto, incoerente. No entanto, ela é o primeiro passo para que possamos alcançar a condição de homens livres. E como estamos distantes…
Edmar,
Voce não é obrigado a votar em alguem no Brasil, voce pode votar em branco.
O que se obriga no Brasil, a todos pensarem em quem votar , se manifestarem, votando ou nao, em vez de ficar jogando golf como nos eua.
Isto nos garante que todos de fato se manifestaram, e que todos que agora criticam, de fato votaram.
As lições administrativas tem sido efetivamente utilizadas por organizações sem fins lucrativos e também pelo setor público.
Em movimentos sociais que participo como o “Nossa BH”, a base de trabalho para o acompanhamento e controle das políticas públicas é planejamento estratégico e indicadores. Ou seja, a base de qualquer empresa que queira ter sucesso.
E respondendo em seu lugar ao Durvalino, venho com a excelente visão de Oded Grajew sobre esse “idealismo”. Não é idealismo, é inteligencia estratégica.
Minas Gerais mostrou isso ao resto do Brasil com a aplicação efetiva dos conceitos de gestão de planejamento, meritocracia e gestão com foco em resultados. Existem erros? Claro, muitos! Mas só quem mora aqui sabe como era antes e como está hoje.
Celebremos o conhecimento administrativo. Ele não foi feito na porta do buteco.
Abraço,
Adriana Torres