Lições Desta Crise. Lição 1 – Não é Financeira, é Cultural

Em administração temos um fenômeno que chamamos de cegueira profissional. Muitos problemas empresariais não são resolvidos porque justamente nossa formação e nossa experiência acumulada nos deixa cegos a alguns problemas, e por consequência a algumas soluções.

Por isso, chamamos de tempos de tempos consultores externos: “Vocês enxergam algo que não estamos conseguindo ver?”

“Sempre fizemos deste jeito, e sempre deu certo, por que então …..?”

No caso dessa crise americana, a tese que eu proponho é que os americanos estão com um problema semelhante, que por precisão vou chamar de cegueira cultural.

Eles não conseguem mais enxergar os seus problemas, porque todos acreditam na mesma coisa, e nestas situações um consultor de uma outra cultura poderia mostrar o que está acontecendo. Um brasileiro, por exemplo.

Mas para uma comunidade acadêmica americana cheia de si, aceitar que o erro é a nível cultural é exigir demais.

Todos sabem que o problema é de mais regulamentação bancária, etc, etc, etc.

Philip Howard, advogado, mostra que os americanos criaram uma cultura sem risco, e essa cultura de ausência de risco permeia a Medicina, Educação e Advocacia. Americanos criaram uma cultura onde todo médico não pode errar, nenhum professor pode reprovar, que o mundo é certo, e pode se tornar sem risco. Assistam.

6 Comments on Lições Desta Crise. Lição 1 – Não é Financeira, é Cultural

  1. Um professor de ética costuma contar, em suas palestras, uma interessante história, que serve para “confirmar” a cegueira profissional e/ou cultural:
    Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
    Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão.
    Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
    Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.
    Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
    Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.
    Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui”.
    Quando chegamos num estágio tal que não aceitamos mais refletir e nem ouvir o que o outro tem a nos dizer, em razão do nosso orgulho e da cegueira profissional, pois as “coisas sempre foram assim por aqui”, perguntamos:
    – Será que não precisamos “quebrar” os paradigmas?
    – Será que a nossa bússola não está quebrada a ponto de descaminharmos?
    – Será que vamos ficar “deitado eternamente em berço esplêndido”?

  2. É verdade que a inclinação socialista das últimas décadas vem corroendo a cultura de risco e empreendedorismo dos EUA. Esta é a mensagem do Peter Schiff, que tem tido grande influência nos últimos anos.
    Porém,os grandes culpados da crise americana são os traidores internos, que usam o federal reserve, uma insttituiçào particular que “empresta” dinheiro do nada para o governo americano e que tirou do Congresso a capacidade de gerenciar a economia.
    O Fed tem sido uma ferramenta para a entrada dos EUA na nova ordem mundial, ou governo internacional. Os EUA são o último país com uma cultura de liberdade individual e direitos do cidadão, e isso tem que cair para abraçarmos um governo da elite globalista.
    O socialismo têm criado uma enorme burocracia para o empreendedor, enquanto garante que todas trambicagens de Wall Street sejam protegidas de um jeito ou de outro pelo contribuinte. “Too big to fail” significa que se o roubo for grande, o governo protege. Isso não é uma crise do capitalismo: é uma crise de intervencionismo estatal demais.
    Procurem os artigos do Peter Schiff (europac.net) do Gerald Celente, do Bob Chapman, do Paul Craig Robertson. Ao contrário do Brasil, onde só temos puxa-sacos entre os conservadores e empresários, todos com medo de perder a boquinha, nos EUA ainda há oposição e inteligência.

  3. Caro Kanitz,
    . Concordo, integralmente, com a essência deste seu artigo. Você pode rever os meus comentários aqui postados em plena crise. Lá estão identificadas as posturas adotadas na nossa empresa.
    . Em plena crise continuamos normalmente os investimentos da empresa. Não demos a mínima importância para a crise. Ficamos responsavelmente atentos ao andamento da crise. Porém conduzimos os investimentos da empresa na certeza de que Administração é Planejamento sério, Execução responsável e Controle preciso de ambos.
    . Agora estamos colhendo muito bem o que foi plantado, em plena crise, com fundo de reserva próprio, desprezando tudo o que se afirmava, durante a crise, expressão de repetidos jargões culturais distantes da realidade objetiva dos fatos econômicos.
    Abraço fraterno.
    Álvaro Stefani

  4. Sobre o vídeo de Philip Howard:
    Me parece que o Brasil se encaminha para o mesmo. A perda de valores essenciais, como o respeito ao outro tem causado danos irreparáveis que o Direito tenta contornar. Não me parece que esteja funcionando…
    Percebendo isso, ao discutir com os advogados a criação de uma nova lei, ou de como agiremos para coibir certas práticas dentro ou fora da empresa, eu concluo em tom de brincadeira: “Vai chegar um dia que as pessoas vão ter que começar a prestar”.
    Talvez esta seja uma diferença importante na mente de um administrador em comparação com outros profissionais. Na convivência, já vi um economista colocar um preço no prejuízo que a lei gera, um advogado criar artimanhas para se adequar e eu, com pensamento administrativo, queria uma solução que não me fizesse apagar um incêndio por dia no futuro. A dialética é burocrática, precisamos de soluções que durem mais que uma sentença individual. Precisamos de decisões que, mesmo que sejam mais demoradas, como uma campanha de conscientização, tenham resultados duradouros. Só com ameaças, multas e outras punições, não está funcionando. Será que não podemos conseguir que as pessoas se respeitem pelo simples fato de que viver com respeito é melhor. Os pais já nem sabem educar seus filhos, porque, não podendo citar a lei, o artigo e o parágrafo, já não sabem mais porque seus filhos não podem colocar as mãos no fogo. As crianças só não devem bater nos colegas, porque se o fizerem, apanharão de volta ou terão castigo. Dizer que não podem bater nos colegas porque dói nos colegas não faz mais sentido para nós. Queremos tomar café quente que não queime nossas mãos ao derramar. Mas isto não existe.
    Na minha cidade tem lei que prevê multa para o condomínio que não separar o lixo. E obviamente não é viável fiscalizar…

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